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quarta-feira, 11 de junho de 2014
15:45 0

Diário de uma serviçal


Enfiar um dedo no umbigo de alguém e avisá-la/o que está com uma meleca do nariz exposta talvez equivalha à expressão de humilhação e espanto de uma pessoa aleatória que acaba de ser perguntada num restaurante se ela é o garçom ou a garçonete, ou num estabelecimento qualquer, se ela trabalha por lá.

Se existe uma categoria sem moral neste Brasil é a tal da galera prestadora de serviços. Não no sentido jurídico, mas todas aquelas pessoas que estão de alguma forma à disposição para servir, tirar dúvidas ou resolver problemas que estejam em situação de subordinação no trabalho, seja ele público ou privado.

Se o capitalismo tem como um de seus pilares a ética do trabalho, pode-se dizer que no Brasil o negócio parou no sistema escravagista. Trabalhar se não for pra ser dono de empresa, chefia ou ganhar mais de 10 mil reais num cargo público acabar por incluí-lo na ralé que pode ser tratada like shit. E é tratada assim não só pelos manda-chuva, não, mas por seus clientes, ou, caso seja servidor/a público/a, pelo "povo".

Aos poucos você vai virando uma pessoa cheia de amargura, antipática, preguiçosamente objetiva. Isso porque às vezes algumas figuras nos tiram do sério. Como curto essa vibe de fazer tipos ideais, aqui exponho pra vocês alguns tipos de gente mala que a categoria serviçal deste pais tem que conviver todos os dias.

1. Louco/a do Direito do Consumidor

O/A grande meritocrata acredita que o mundo é feito de vagabundos/as, e já se relaciona com nós, serviçais, como se desde o princípio já estivéssemos de má vontade para atendê-lo/a. Chega com postura imponente e já impaciente, batendo os dedinhos na mesa ou no balcão, e fala com tom impositivo e desafiador. Faz alguma pergunta absurda impossível de responder e solta um comentário, com tom de escárnio, dizendo que ninguém sabe trabalhar neste país, que ninguém sabe de nada. Isso quando não começa a dar escândalo. "Absurdo" é a sua palavra favorita. 

2. Íntimo/a

Você está bem de boa na sua, olhando o relógio para ir embora pra casa, e chega um(a) camarada com um sorriso exagerado inexplicável, falando com voz infantil. Aperta sua mão, dá dois beijinhos molhados e pergunta se você pode fazer um favorzinho - só faltava também meter o dedo no seu umbigo. Coisa boa parece não ser.

Tem gente que quando acha que você está numa posição escrota age assim por pena para compensar a escrotidão que ele/a acha que você vive e o sentimento de "deus me livre dessa situação". É um constrangimento comum vivido por empregadas domésticas, mas que pode se expandir pra todos os outros segmentos. A solução é apenas levantar uma sobrancelha e esboçar uma expressão de "não lhe dei intimidade". Porque vai que a pessoa é só legal mesmo e você se confundiu.

3. Ditador/a

Já entra no recinto dando um susto com seu tom de voz de carro de som. Só usa frases imperativas. Assim, não solicita nada, dá ordens! Vai logo mandando você trazer uma água e um café. Não respeita filas ou ordens de chegada. Você guarda o ódio para si, e torce para chegar o momento em que ele/a vai precisar da sua ajuda. É o momento mais gostoso pra fazer um corpo mole, atrasar um pedido, cuspir num café.



4. Sensual

Este/a nunca sai de casa sem estar com uma roupa íntima pronta para qualquer empreitada. Qualquer lugar é lugar para arranjar uma pegação. Inclusive quando vai a repartições públicas ou fazer compras. Chega com um olhar penetrante exalando sensualidade. Faz perguntas e ouve a resposta com a boca semi-aberta. Alisa o seu braço, pergunta seu nome. Podia ser bonito/a, podia ser interessante, podia ter menos de 30 anos de diferença, mas a vida não nos concede nada assim de graça.

5. Desprovido/a

Não sabe nem o que está fazendo naquele lugar, nem o que quer. Você oferece ajuda, a figura começa a expressar um monte de frases sem sentindo, conta todo o histórico que a motivou estar lá. Num dia de paciência, você ouve com bastante atenção, até que ao final de tudo, não passava de um engano, de uma ideia sem sentido.

Eeer... Força!










quarta-feira, 4 de junho de 2014
08:14 2

O mito do caralho de asas

Uma coisa é você resmungar: "caralho!". Outra coisa é você com muito mais ódio e com muito mais intensidade, dizer: "isto é um caralho de asas!".

O "caralho de asas" - ou, para quem preferir, o "carai de asa" - é uma expressão que denota muito mais poder que o simples caralho terrestre. Provavelmente mais popular no Nordeste brasileiro, o "caralho de asas" é mais que uma simples expressão de indignação: ele representa um ser que existe e vaga, oculto, mas sempre às voltas por este planeta.

O caralho de asas, assim como as baratas voadoras, é um perigo que amedronta de forma mais intensificada as mulheres. Uma coisa é uma barata; outra coisa é uma barata que voa.

O voo, o ato de voar, encanta a nós, seres humanos, incapazes de tal façanha, mas também representa o perigo, o mistério, o inesperado. Diante de um objeto voador nos encontramos vulneráveis, sem armas para combater as peripécias e a mobilidade mais avançada daquele ser estranho. 

Sendo assim, o caralho de asas é mais do que um caralho comum, é um caralho voador. Ele vaga por aí, geralmente de forma invisível, esperando qualquer vacilo de suas presas: as mulheres. 

Fica então explicado por que ao sentar não se pode ficar de pernas abertas. Ainda que você esteja de calças e tudo esteja bem cobertinho, o caralho de asas pode estar por aí, rondando, esperando esse momento para dar o bote. Cruze-as sempre com bastante ênfase, porque ele perfura até jeans, desde C&A até Levi's. Caso você não obedeça a essa lição, tome cuidado porque você poderá ser mal interpretada: podem pensar que você está abrindo um chamado para a piroca voadora.

Dizem por aí que o maior perigo é quando se está de vestido. Se for daqueles curtos, então, pior ainda. Ouvi rumores que o objeto voador pode se materializar e não há desculpas para fugir dele. Roupas curtas são um ponto fraco desse pavão misterioso. Ah, decotadas também, ele encontra uma forma de se encaixar de qualquer jeito. Intrépido caralho de asas!

Uma mulher mencionar o caralho de asas é um perigo (what the hell am I doing here?).  O que dizem por aí é que falar sobre o assunto é um verdadeiro atrativo para esse ser invisível extremamente astucioso. Por isso, revelar a sua existência me coloca numa situação complicada. Há quem pense que o fato de mencioná-lo me torna próxima desse ente. Vão pensar por aí que ando interagindo ou pretendendo atrair uma penca de caralhinhos voadores.

Complicado.

O machismo criou o caralho de asas e desde então as mulheres não podem viver em paz. Ele está sempre por aí nos vigiando e batendo suas asinhas. Alguém precisa destruí-las!

O desafio está lançado. Seus dias estão contados, caralho alado!
quarta-feira, 28 de maio de 2014
13:49 1

Eu acho que pirei (meus pés saíram do chão) - Irracionalidades da paixão não correspondida


Quem nunca viveu ou presenciou uma paixão desmiolada e não correspondida? Pessoas fortes, decididas, sábias, extrovertidas, sensatas, destroem suas reputações, perdem o bom senso, o amor próprio, a sanidade, e são iludidas com demonstrações de afeto das mais enganosas.

No futuro, quando caem em si, ficam amargas, difundindo por aí mensagens de pessimismo, cheias de rancor. E aí são dias e mais dias ouvindo canções com letras que traduzem a sua angústia.

Se está sofrendo e não tem amor próprio: Adele e Janis Joplin; se perdeu a confiança no amor: "Love Hurts", do Nazareth e "Hole in my soul", do Aerosmith; se transformou a paixão em ódio e revolta: "You Oughta Know", de Alanis Morissette; se aprecia uma dor de cotovelo mais indie e alternativa: The Smiths.

Se não entende bem o que está acontecendo, a frustração adquire inúmeras nuances e você escuta tudo isso mesmo. Pra completar, e deixar parentes e amigos/as constrangidos, ainda faz questão de compartilhar essas músicas dolorosas na Internet, expondo sua fragilidade para a geral.

Quem nunca? 

Faz parte da vida. É isso que dá sabedoria às pessoas mais velhas. Todavia, tem quem não aprenda, nunquinha. E a gente tem que presenciar amigos e amigas incorrendo no erro, rumo ao fundo do poço.

Com minhas experiências vividas e presenciadas, e também com o convívio com gente malvada destruidora de corações, resolvi elaborar um conjunto de reflexões acerca de determinados comportamentos, dando uns toques sobre a falta de interesse daquela pessoa nova, que aparentemente pode estar lhe dando bola, mas que você, encantado/a, não percebe que está brincando com seus sentimentos mais puros. Não são regras de jeito nenhum. Até porque gente contraditória e complicada sempre vai atuar por aí confundindo a nossa cabeça.

Feita a ressalva pra quem é de Libra e não gosta de generalizações, eis algumas situações que a gente costuma interpretar de forma irracional quando se está imbuído/a de paixão e que valem a pena refletir:

Irracionalidade 1 

"Ele/a não está preparado para um relacionamento agora. Está com medo de amar, pois já passou por situações complicadas". 

Convoco todas as pessoas que já se apaixonaram de verdade neste mundo! Em que momento da vida uma pessoa apaixonada - ou seja, temporariamente louca e fora de si - percebe que o objeto da sua paixão lhe corresponde e de repente decide que não quer ficar com ela porque "tem medo de amar"? Acontece nos filmes, mas não acontece na vida, né, gente?

Essa só pode ser a desculpa mais esfarrapada que existe. Diga-me que você é casado/a, que é viciado em crack, que o par pretendido é seu parente de primeiro grau, que eu digo que essa é uma desculpa plausível para uma pessoa incendiada de paixão lhe dispensar. Só problemas verdadeiramente sérios freiam uma pessoa louca apaixonada.

Meses depois e, tchanram, ele/a aparece com um/a namorado/a. Hum!

Irracionalidade 2 

Você passa fins de semana inteiros assistindo How I Met Your Mother e com o status online no Facebook, mas o/a fulano/a só lhe liga chamando pra sair num momento totalmente inconveniente, que ele/a sabe que você não tem como ir. Você mora perto da praia e a pessoinha lhe chama pra ir numa festa lá no centro que já começou. São duas horas da manhã, você não tem carro (a pessoinha sabe disso), e ela não se propõe a lhe buscar, a lhe arranjar uma carona, nem a ajudar no táxi caríssimo.

Aí você, com muito aperto no coração, recusa a oferta e propõe sair outro dia - eu estou levando em conta que você não pirou de vez e foi para a tal da festa de ônibus, essa hora da madrugada, num lugar do outro lado da cidade. 

Depois desse momento, espera-se a tal saída, mas esse dia nunca chega. Você fica aguardando por séculos algum convite, ou, sempre que você faz um recebe desculpas das mais variadas. Porém, como boa pessoa apaixonada iludida que é, você guarda com o maior carinho aquele momento do convite inconveniente, e se agarra nele para convencer a si mesmo/a que talvez o/a fulana lhe reserve algum lugar especial, pois até tem vontade de lhe ver de vez em quando!

Sabe-se que isso tudo é uma estratégia de manter a sua chama da paixão acesa, pra que ele/a ganhe tempo escolhendo alguém melhor pra ficar. Caso isso não ocorra, "vai tu mermo". E você, sabendo disso, no fundo, pode até não achar má ideia.

Irracionalidade 3

Faz parte da vida você se relacionar mais sério com uma pessoa e de vez em quando estar de mau humor, sem vontade de conversar, fazendo comentários ferinos. Porque a rotina no convívio humano às vezes vira uma selvageria mesmo. Porém, repense essa futura (im)possível relação se a pessoa age babaquisticamente quando vocês estão apenas se conhecendo.

Você mal conhece o/a fulano/a, e a peste curte lhe tratar mal de vez em quando, proferindo uma série de "brincadeiras" chatas ou de críticas constantes disfarçadas de "brincadeira". Ou, ainda, é daquelas pessoas de comportamento inconstante, que uma hora está super doce e agradável, e de repente fecha a cara, fica séria do nada, e começa a lhe dar foras. Hein?

Você, como pessoa compreensiva que é, tenta justificar internamente a atitude babaca pra fingir que não está percebendo que na verdade, às vezes, sua companhia dá enjoos. Isso mesmo, aquele mesmíssimo sentimento que você nutriu por aquela figura grudenta e apaixonada, que hoje você respira com alívio por ter se livrado. Lembra quando estava tudo correndo bem, até que o/a grude cometeu um ato ou fez uma carinha assustadoramente fofa, que simplesmente lhe deixou sem armas para fugir daquela situação? O que você fez? Perdeu os modos e extravasou a sua vontade de fuga sendo um/a desagradável escroto/a. 

Então, analise bem se o comportamento imbecil tem a ver com se "estar muito cansado/a" ou "ter um dia difícil". Quem em sã consciência, no jogo da conquista, acaba correndo o risco de desagradar aquela pessoa que você nutre o maior carinho? Ainda mais quando os primeiros momentos são tão importantes.

Irracionalidade 4

O/A ilusionista sempre tem um agrado que ia lhe fazer que nunca foi possível se concretizar. Chega pra você e fala que iiiiia comprar uma camiseta que era a sua caraaaa, massss a loja só aceitava cartão de débito. Iiiiiiia lhe chamar pra ir no cinema, maasss achou que você deveria estar cansado/a e não ligou. Iiiiiiia lhe convidar pra aquela festaaa, mas os convites eram limitados, e em cima da hora alguém tomou a vaga - "nem foi tão boa assim". É um monte de boa vontade que nunca dá certo de se praticar.

Então, mais uma vez, você guarda no seu coração essa boa intenção, e pensa como deve ser especial por provocar todas essas quase atitudes, mesmo que no final NUNCA uma sequer tenha sido concretizada.

Irracionalidade 5

O/A fulano/a até que lhe chama pra sair, mas jamais pra vocês ficarem sozinhos/as. Um cineminha, um jantarzinho romântico, nunca deu certo. Vocês só saem de galera. Sempre com meia dúzia de amigos/as que dificultam que vocês aprofundem os laços e se conheçam melhor. Tudo estrategicamente planejado pra que ele/a não enjoe muito fácil da sua cara, nem fique tão rapidamente cansado/a. Pra sacanear mais forte, o seu par ainda tem alguns desaparecimentos repentinos, e lhe deixa sem companhia ou com o/a amigo/a de boa índole, que com muita dó vai tentar suprir a falta de consideração do/a parceiro/a. 


Quanta gente má, quanta gente cruel! Refletiu, acabou se identificando? Prepare-se para os lenços, os brigadeiros, as canções. Paixão escrota é uma desgraça. Depois que a gente se envolve, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. A boa notícia é que nada dura para sempre. E que fique de lição! 

quarta-feira, 21 de maio de 2014
08:05 3

Arbitrariedades

Depois que você viu que não deu pra fazer fama antes dos 25 anos, não fez sucesso no mundo artístico, esportivo, intelectual ou corporativo, ou sequer sabe ainda em qual desses mundos você gostaria estar, chega um dia que você tem que traçar um plano. Não dá mais para participar das Olimpíadas, e a chance de ser um Mark Zuckerberg, um Álvares de Azevedo, uma Spice Girl passou e você tem que se inspirar nas pessoas do mundo real que conquistam as coisas mais tarde mesmo.

Meu plano tardio: seguir carreira acadêmica.

Os primeiros passos foram dados, mas tem que ter perseverança pra não desistir diante dos primeiros percalços. Estou me referindo mais precisamente às críticas e resultados negativos que são inerentes a qualquer pessoa que se dispõe a meter a cara no mundo 

Minha trágica história: Fiz um artigo que achei bacanérrimo. Achei que era um dos melhores que tinha feito. Fazia parte de uma disciplina do mestrado, e acabei o aproveitando para tentar publicação em algum congresso legal ou numa revista bem qualificada. Mandei o danadinho do artigo pra ser avaliado num congresso. Depois de esperar uns meses pela aprovação, vi que ele não tava na lista dos aprovados para apresentação e publicação. Recebi uma nota mediana, acima da média - vale frisar -,  mas não foi suficiente para entrar dentro do número máximo de pessoas permitido por grupo de trabalho.

Eu tinha a impressão que todo mundo tinha artigo aprovado nessas paradas facilmente, então eu era a derrotada, a ignorante, que não tinha capacidade sequer para participar de um Congresso que aparentemente todo mundo conseguia aprovação. Incorporei logo o "Marrie, A Estranha", e pensei ser execrada pela sociedade, ovos sendo atirados, restos mortais de animais sendo jogados sobre a minha cabeça, e alguém com uma faixa bem grande dizendo: "Este lugar não é para você". 

Drama, drama, eu sei. Porém, onde estou querendo chegar?

Terminando o drama: Duvidei das minhas capacidades, pensei por uns instantes em voltar a estudar pra concurso e seguir uma carreira nada a ver. Até que tive uma lição de vida com um programa de TV - as lições de vida podem sair de pessoas e situações que você nunca imaginaria. Foi quando uma cantora bem arrasante começou a cantar lindamente no The Voice Brasil (ok, ha-ha), e ninguém virou a cadeira.

Como assim ninguém virou a cadeira para um talento que para mim era inquestionável? E as coisas começaram a ficar mais claras. Comecei a pensar em todas as vezes que vi gente talentosíssima em várias áreas da vida terem avaliações completamente injustas ou questionáveis. E percebi como muitas vezes a avaliação de terceiros em relação a um determinado talento, ideia ou personalidade pode ser completamente arbitrária.

Quando utilizados critérios subjetivos, a coisa é particularmente escandalosa. Soube que um dos professores mais fantásticos que tive na faculdade, em termos de conhecimento, carisma e didática, foi fazer um concurso para ser professor de um outro lugar e foi justamente reprovado no que achava ser o seu maior ponto forte, na prova de didática! Quem diabos iria imaginar que algum avaliador fosse reprová-lo justamente naquilo que eu e outros alunos achavam mais especial nesse professor? Que critérios a pessoa que o reprovou usou?  

Veja bem: eu mesma, nem acho os filmes de Woody Allen engraçados. Acho a voz de Maria Gadu irritante. Não consegui terminar o segundo livro do Senhor dos Anéis porque achei chato. Perdi o tesão por Johnny Depp depois que ele fez "A fantástica fábrica de chocolates". Imagina aí se essas pessoas e obras tivessem que depender de mim para conseguir alguma coisa!

Até em critérios considerados objetivos as coisas podem ser bem escrotinhas. Quantas pessoas inteligentíssimas, desenroladas, especiais, capazes que eu conheço estão penando amargamente para passar em concurso e ainda não conseguiram? Quem faz concurso sabe que não basta ter estudado; o aspecto sorte conta muitíssimo. Cai justamente aquele assunto que você não estudou, e uma pessoa que talvez tenha acumulado muito menos conteúdo que você, teve a sorte de estudado justamente aquilo e desenrolou.

Às vezes ser bom não é o suficiente. O dia, o lugar, o momento, uma pessoa idiota podem acabar decidindo coisas importantes da sua vida, e muitas vezes você pode acabar se dando mal. No entanto, não deixe de acreditar em suas capacidades! Se você acredita que é bom e se esforça pra isso, o negócio é tentar, tentar e tentar. Sabe aquele artigo que falei? Acabei tirando 10,0 na disciplina e ele foi aceito numa revista científica conceituada, e ainda com elogios! Aquela galera do Congresso não sabia era de nada.




sexta-feira, 9 de maio de 2014
16:08 1

Constrangimentos do patriarcado

É bem verdade que os impactos do patriarcado divergem consideravelmente dependendo do lugar, da classe social e de outros fatores como raça, religião etc. No entanto, ainda que você viva no ambiente mais bacana, tolerante e respeitoso para o seu desenvolvimento pessoal, o mundo sempre faz questão de lhe mostrar que o espectro do patriarcado ainda ronda; e é constrangedor.

1. A rainha do lar

Não basta ser charmosa, culta, inteligente, estudante e profissional exemplar. Para mostrar o seu valor, e ganhar o título de "mulher completa", você ainda tem que mostrar que é uma cozinheira de mão cheia, tem que lavar pratos como se fosse uma das coisas mais gostosas do mundo, tem que varrer o chão com a maior desenvoltura e servir de garçonete nos eventos sociais enquanto os membros do sexo masculino jogam baralho e bebem whisky - ainda que você seja visita naquele evento, e eles estejam na própria casa.

Essa avaliação geralmente é feita por tios/tias, sogros/sogras, ou por gente amiga dos seus pais, que irão investigar se você teve uma boa "criação". No momento que você for fazer alguma tarefa doméstica, algumas olhadelas de avaliação serão jogadas para medir o seu estado de felicidade e boa vontade - para saber se você mostra que nasceu pra fazer aquilo mesmo, e é uma mulher solícita e maternal; e, agilidade e habilidade - tem que descascar um alho num piscar de olhos, varrer a casa que nem uma bailarina, cortar cebola com destreza e rapidez.

E parece que é nesses momentos de avaliação que dá um ziricutrico e você quebra um copo lavando a louça, erra no tempero da comida e derruba uma criança no chão. Aí, é o fim, minha gente, sua reputação de boa mulher irá por água abaixo.

Ou, ainda, caso você faça corpo mole para fazer alguma dessas atividades: caras de reprovação, rabissacas, "tsc tsc, essas mulheres de hoje em dia...". O seu irmãozinho, priminho ou coleguinha toma a mesma atitude, e "ah, não é coisa de homem mesmo".

Ia ser tão bacana se todo mundo pudesse ajudar nesses coisas chatas da vida, né? No entanto, se o chuveiro quebra, cadê o "homem da casa" pra consertar? Parece que os homens de hoje em dia não estão muito desenrolados pra resolver problemas em aparelhos eletrônicos, instalação elétrica, que nem aqueles homens de antigamente. O passado é passado para os homens; já as mulheres, além de terem que dar conta das atribuições do presente, também têm que manter os vínculos com o passado.

2. A casamenteira

Se você já está há algum tempo em um relacionamento, vão jurar que você já deve estar forçando a barra para engatar um casamento, mesmo que você não se importe com isso e viva recebendo declarações e propostas do seu companheiro. O casamento é visto como um ardil feminino, uma manipulação maquiavélica feita pelas mulheres que inebria os homens a ponto de fazer com que eles aceitem benevolentemente largar sua vida de liberdade e júbilo. Vão dizer na sua cara que você, pobre moça, deve estar muito infeliz, porque ainda não teve sua plenitude alcançada por meio do contrato de casamento. Vão, de brincadeirinha, solicitar ao seu companheiro que, num ato de compaixão em relação a tamanha vida miserável, resolva ensandecidamente abdicar de seus privilégios para dar sentido e satisfação à sua vida.

3. A interesseira

"Mulher não precisa estudar, basta encontrar um homem rico para casar". Bacana demais viver da riqueza dos outros, né? Incrível que gente desinteressante tem sempre essa teoria espertíssima e divertidíssima para soltar por aí. Falam que mulher só pensa em dinheiro. Bem, meu querido, se você não possui nenhuma destas características, tais como: beleza, charme, inteligência, bom papo, bom gosto, bom humor, bom caráter, infelizmente só o que lhe sobra é começar a ganhar dinheiro para atrair gente interesseira. Pessoas legais não têm interesse em gente tão desprovida. A dica é comprar o carro da moda, andar com roupas de marca caras (e que mostrem esse atributo para o público), frequentar lugares "VIPs" e a isca estará perfeita. 

4. A descartável

Quem nunca ouviu que mulher depois dos 25 anos "passa do ponto"? Infelizmente já tive oportunidade de escutar isso mais de uma vez. Ou, "se minha mulher não emagrecer logo depois de ter filho, eu a largarei". Já escutei essa também algumas vezes. Bacana saber que depois dos 25 anos, eu viro um lixo humano até o momento da minha morte.

Existe um ódio generalizado de mulheres gordas e/ou velhas. Basta lembrar o quanto Marília Gabriela foi esculachada na época que namorava com Reynaldo Gianecchini e como as pessoas têm uma implicância absurda, e sem um fundamento preciso, com Preta Gil. Ficando velha e/ou gorda, a gente tem que passar a vida se conformando às expectativas alheias, de ser mãe, mulher casada (com homem mais velho, claro), discreta e doce.

Solução para não ter estresse: morra, antes de envelhecer. Sugeriria os 27 anos, porque aí você se junta ao hall da fama, junto com Janis Joplin, Kurt Cobain e Amy Winehouse.







domingo, 13 de abril de 2014
06:00 0

E essa gente radical, hein?


Para quem achava que os debates ideológicos entre posicionamentos de direita e esquerda estavam ultrapassados, basta dar uma escorregadinha no feed de notícias do Facebook, ou ler os comentários de algum site de notícias, que perceberá que a promessa pós-moderna de fim das ideologias não está tão em voga assim. Há um conflito claro entre visões de mundo ocorrendo.

Nessa arena de confronto, há os que ficam em cima do muro, assistindo tudo com visão privilegiada, muitas vezes criticando os "radicalismos", os "extremismos", sobretudo das pessoas apaixonadas de esquerda. "Ingênuos/as!", "utópicos/as!", "malucos/as!" é o que dizem. 

Posso compreender as pessoas que ficam em cima do muro. Até porque, eu mesma, com 27 anos de América do Sul, ainda não elaborei bem, nem decidi o que pensar sobre diversas situações; são o que dizem ser essas crises da vida. Fica realmente difícil se entregar de corpo e alma assim. Por agir dessa forma também, permita-me confessar, ficar em cima do muro é confortável demais. 

Até agora, por exemplo, não me decidi se acredito em Deus ou não. Dentro de mim, eu penso que se morrer e nada acontecer, eu, no meio do nada, ainda que isso não seja possível, ria da cara de todas essas pessoas muito religiosas que abdicaram de várias coisas da vida, aparentemente inofensivas, em busca de uma grande iluminação pós-morte. Ao mesmo tempo, penso que se existir algo além-vida Deus ia ver que eu tava com uma perninha do outro lado do muro, teria compaixão de mim, computaria que eu tinha bom coração e me encaminharia para as nuvens de algodão.

Aí eu vivo assim, tranquila, achando que nada de mal vai acontecer comigo. Pois acontecendo uma coisa ou outra, eu tenho fé que vou sempre sair ganhando. 

Eu imagino que é assim que se sente os em-cima-do-muro-políticos. Tudo que acontecer de bom, que convém, atribui pra si; o que der errado, não lhe pertence. E aí, passa a vida apontando o dedo indicador, às vezes o maior de todos, na cara dos outros que tomaram alguma posição. Vida boa danada. Sem culpas, sem cair nunca em constrangimento, em contradição ou em qualquer outra situação difícil. 

No entanto, amigo, amiga, reflita um pouco e verifique que todas as grandes mudanças ocorridas no mundo, foram lideradas por pessoas audaciosas, que tomaram alguma posição, pessoas com várias dessas características que você diz ser própria de gente radical, louca, histérica.

Já dizia aquela publicidade da Apple: "as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo, são as que o mudam" (não me contive). Tudo gente apaixonada o suficiente pra não olhar pra trás e ir até o fim, muitas vezes até pagando pela vida por isso.

Veja que a galera que perturba, que incomoda, que não teme o julgamento alheio foi a que melhorou suas condições de trabalho e aumentou o seu salário; aquelas mulheres bravas, "histéricas", intragáveis, foram aquelas que foram capazes de desafiar o estado das coisas e que posteriormente acabaram lhe dando liberdade de expressão, de opinião, de escolher e administrar sua própria vida. Aqueles chatos do movimento estudantil foram aqueles que melhoraram a vida de você que tinha problemas econômicos, o estado da sua biblioteca e do seu restaurante universitário. 

Beleza, nem sempre são as pessoas mais divertidas, mais leves, mais tranquilas de conviver - apesar de Gandhi parecer um doce.  Porém, elas têm um valor imenso, porque elas que fazem o mundo se movimentar. Ficar em cima do muro muda nada, ou quase nada. Impedir ou criticar muito do que essas pessoas acreditam e correm atrás, preste atenção, às vezes pode até lhe identificar com o lado opressor, porque de certa forma ficar do lado do status quo é achar que o estado das coisas vai muito bem, e a gente sabe que não vai, pra muita gente. Então por que ficar parado, por que temer a confusão?

Claro que não quero dizer que sempre escolhem os métodos certos, ou tomam as melhores decisões. Às vezes se equivocam, claro, porque errar é o risco que corre a pessoa que toma alguma atitude, que se propõe a fazer alguma coisa. Porém, têm todo o meu respeito.

Por isso, dedico o meu post de hoje a todos os chatos e chatas, os loucos e loucas, os arruaceiros e as arruaceiras, os/as radicais, gente a quem eu devo tudo de bom que usufruo agora, e que ainda irá permitir que o que tenha de melhorar, melhore. 







quarta-feira, 9 de abril de 2014
10:03 2

O que não te contaram sobre aquela viagem

Aaaaah, viajar...

Alguma coisa aconteceu nos últimos anos que viajar para o exterior se tornou algo bastante comum entre os brasileiros. E com as redes sociais, todo mundo pode visualizar isso com registros fotográficos incríveis. A intenção é compartilhar com a família e amigos esse momento tão especial. Há também quem tenha a necessidade de se afirmar perante os outros, mostrando como sua vida é maravilhosa, digna de inveja, etc e tal. 

Viajar é massa! É lúdico, construtivo, abre horizontes, enche a gente de cultura. Porém, existe um lado sombrio, cheio de nuvens de fumaça que as pessoas não costumam mencionar por aí. Tudo isso pra pegar o besta, que ficou em casa, que acha que todo mundo tem a vida melhor que a sua. 

Sensibilizada com você, que está sem poder viajar, está sem grana ou economizando pra uma outra coisa mais essencial, resolvi, então, compartilhar experiências não só minhas, mas também de diversas pessoas conhecidas (sem mencionar nomes, claro) que irão confortar o seu coração. 

É, minha gente... Viagens podem ser muito divertidas, mas também podem ser:

1. Destruidoras de relacionamentos

Viagens podem destruir namoros, amizades; podem, sim. No primeiro caso, aqueles namoros cheios de paixão que acabaram de começar podem ser testados nesse momento em que vocês não poderão se desgrudar. A falta de intimidade não só poderá te encher de gazes, mas poderá fazer com que você perceba que talvez aquela pessoa não seja tão boa companhia assim. O seu novo parceiro pode ser um ladrão de souvenirs, um unha de fome pra comprar comida, um sujismundo, um frescurento filhinho da mamãe, ou simplesmente pode ser uma pessoa de ótimo coração e comportamento exemplar, mas por algum motivo qualquer coisa que faz te dá uma vontadezinha de agredi-lo verbal e fisicamente. Aquele/a amigo/a querido/a também pode ser tudo isso, e mais, essa amizade pode dar espaço ao maior conflito existente entre companheiros de viagem: o conflito hiperativos x preguiçosos. 

De um lado, os andarilhos incansáveis: passam horas andando, tiram fotos sem parar, comem num fast-food qualquer, madrugam em festas, e ainda querem acordar 7 horas da manhã pra prosseguir os passeios turísticos. De outro lado, o lado o qual me identifico (não necessariamente o melhor lado), a galera do turismo light, do turismo da paz, que não faz questão de conhecer tudo de uma vez. Gosta de sentar num banquinho, admirar a paisagem, comer uma comida típica, dormir mais de 8 horas por dia. Quando esses perfis se reúnem podem gerar brigas, desgastes. Cada um que reclame do outro defendendo a sua própria maneira de fazer turismo. Amizades são abaladas, se tiver mais gente num grupo, lados se dividem, farpas são trocadas. O negócio é torcer pra tudo voltar ao normal quando chegarem em casa. 

2. Cansativas, muito cansativas

Sabe aquela foto alegre, deitada na grama, com aquele óculos Ray-Ban fashion comprado no Duty Free? Pode ter sido estrategicamente forjada para enganar você, bestalhão. Aquela alegria, aquele momento de descanso, contemplado a natureza e a arquitetura esplêndida da cidade estrangeira pode não ter passado de um intervalo de 20 segundos apenas para tirar essa foto super divertida, que será seguida de uma jornada cansativa, de longas caminhadas, às vezes corridas para o ponto turístico mais próximo. Aquele museu bacana, cheios de obras famosas de pintores renomados, será utilizado só para ponto de descanso para ir ao banheiro, encher a garrafinha com água da pia, e para tirar um cochilo em algum banquinho ou escadaria. 

3. Superestimadas

Aquela cidade linda, adequada para um pertencente da elite brasileira, digna de cenário para uma novela de Manoel Carlos, nem é tão legal assim. Aquele prato típico maravilhoso? Era melhor o do restaurante que fica a poucos metros da sua casa no Brasil. Aquela obra de arte famosérrima? É pequena demais, mal deu pra chegar perto dela com toda aquela multidão a cercando. Aquela segurança toda de país desenvolvido? Ah, meu amigo, vacilou, e cadê a carteira no bolso? Cadê a bolsa, depois daquele cochilo no trem? De um tirinho na cabeça você pode até ter se livrado, agora de uma mãozinha sapeca, não estás livre, colega, em lugar algum deste mundo. 

Você pode ter deixado de viver uma aventura incrível, mas também pode ter se livrado de uma grande roubada. Acorde com um sorriso no rosto pra ir à faculdade ou ao trabalho, coma o seu inhame com carne de sol e/ou ovo, e/ou queijo de coalho com satisfação, poste uma foto com esse prato com cara de “nham, nham” no Instagram e mostre que a vida também pode ser gostosa na rotina. 




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
16:38 10

Novas manifestações da classe média brasileira


A ampla difusão da TV por assinatura, o acesso à Internet, a baixa nos preços das passagens aéreas, o acesso a bens materiais de alta tecnologia e também ao ensino superior modificaram substancialmente o perfil da classe média alta brasileira. A turma tem ficado cada vez mais enjoadinha e tem compartilhado de manifestações de comportamento bem parecidas. Essa parada de globalização realmente tem o poder de padronizar as pessoas; e andando por aí, clicando por aqui, você pode encontrar alguns perfis de gente com atitudes e estilos muito semelhantes. Neste novo post resolvi reunir algumas dessas figurinhas que você facilmente pode encontrar por aí. 


Quase cidadania europeia

O brasileiro "cidadão europeu" está chateadíssimo com essa história de estar todo mundo viajando para o exterior agora. Há pouco mais de 10 anos viajar para o exterior era prerrogativa sua e de poucos. Agora toda essa ralé, sem sofisticação, com seus pacotes CVC podem usufruir daquilo que antes só ele podia conhecer. Sempre fazendo questão de esclarecer que não se encaixa na categoria "turista", porque a alcunha que lhes atribuí já diz, né? Ele é praticamente um cidadão europeu. Para essa pessoa, o tal do turista é uma figura repugnante. Turistar é coisa de povinho, com suas roupas de frio cafonas emprestadas pelo parente rico. Ele faz questão de mostrar que conhece profundamente todas as capitais e cidades glam europeias. Vai contar uma historinha, tem que inserir os nomes das ruas, ditas com o sotaque estrangeiro (francês, de preferência), para mostrar o quanto está inserido naquele lugar. Dão de vez em quando uma de Luciana Gimenes, e jogam expressões estrangeiras totalmente desnecessárias no meio das frases: "Gente, eu estava brincando! Foi apenas uma blague".

Pirei nas tecnologias

Este aqui é o desesperado por novas tecnologias. Passa o ano comendo mal, muquiranando para todas as coisas mais básicas da vida, mas tem seu Iphone de última geração e o tal do Macbook Air que equivale ao preço de pelo menos três notebooks razoáveis ("compensa, não trava"). O seu lugar é, claro, o paraíso do consumo, os Estados Unidos. Todo ano tem passagem obrigatória nos States. Caso contrário, é o mala que perturba viagens alheias, incomodando a tia da amiga da namorada, que ele soube que viaja em breve, fazendo as encomendas mais inconvenientes. Adora camisetas outdoors com o nome da marca famosa explícito, usa tênis esportivo chamativo caro para ir a qualquer lugar e tem o dedo podre pra escolher modelo de óculos e relógio. Este, de preferência o mais feio e grande da Michael Kors.

O/A VIP

No falecido Orkut este estaria em comunidades como "Sua inveja faz a minha fama", ou, "Deus me disse: desce e arrasa". Sua autoestima baixa e espírito invejoso é compensada na busca por provocar nos outros o mesmo sentimento. Por isso, seu objetivo é mostrar que é melhor que todo mundo, e que tem uma vida também muito mais bacana e divertida. Assim, é o cara que "não se mistura" e só vai para festas "selecionadas" ou com espaços selecionados. Não pode deixar de registrar tudo amplamente nas redes sociais, e se puder pôr também em alguma coluna social, melhor ainda. Como quem procura, acha, são pessoas que vivem reclamando de sofrer de inveja dos amigos ou amigas. Um sofrimento talvez um tanto gostoso de se sentir... Ah, e os homens dessa categoria costumam acusar todas as mulheres de serem interesseiras. Também, né, amigo, quando o único valor que você demonstra é o dinheiro, não há como atrair gente diferente.


Fotógrafo/a e fashionista



Com a disseminação das redes sociais, todo mundo tem seu espaço para ditar tendência. O fotolog foi responsável pelo boom da fotografia no Brasil, e até hoje essa mania se perpetua no Flickr e no Instagram. Muita gente acabou fazendo fama com fotografias lindas e conceituais. Só que a coisa foi se pasteurizando, e já dá pra encontrar um padrão nessa galera. Principalmente, entre as garotas. Antes de fazer o blog, prestei mais atenção no que faziam as blogueiras bem sucedidas, e observei que boa parte delas apresentavam características semelhantes (vou até imitar depois, pra ver se dá sorte). Um blog de sucesso tem que ter, claro, fotos, muitas fotos (tô pecando nisso). E algumas que você pode ver pelo menos em um em cada três blogs são: fotos com gato preto; fotos com frutas vermelhas como amora, cereja e morango; fotos mostrando a cor do esmalte; fotos na Starbucks. Livro favorito: "Alice no país das maravilhas". Filme: "O fabuloso destino de Amélie Poulain" ou "500 dias com ela". Um lugar: Paris, Londres ou Nova Iorque. Ícone da moda: Audrey Hepburn, em "Bonequinha de Luxo". O que não pode faltar na bolsa: batom da Mac.

Esqueci de mais algum? Pode acrescentar nos comentários. :)


























segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
13:56 3

Gula: um pecado subestimado

As leis cristãs nos ensinam que existem sete pecados capitais: a gula, a avareza, a luxúria, a ira, a inveja, a preguiça e a vaidade (ou orgulho). A vida já me ensinou que não existe um que possa ser tão pior que o outro. Quaisquer deles em grandes proporções podem trazer resultados trágicos.

"Qual é o seu pecado?", alguém da mesa pergunta. A resposta é quase sempre a mesma. A inveja é negada por todos. A luxúria e a ira geralmente são evocadas pelos homens que querem parecer mais machos; a vaidade ou orgulho, pela galera da alta autoestima excessiva. Enquanto a gula e a preguiça são os pecados mais admitidos e socialmente aceitos.

Aí eu digo que meu grande pecado é a gula. Alguém sustenta um "não valeu". Porque há quem ache que simplesmente ter fome e ter vontade de comer já configura o pecado. Sempre tem uma magrelita que se diz gulosa. Você faz o teste da pizza e a danadinha come duas ou três fatias, e já se diz satisfeita. Faz-me rir! Vou dizer pra você o que é uma pessoa gulosa.

Uma pessoa gulosa não consegue respeitar tira-gostos. Se você tem intimidade com o grupo, já senta do lado do patê e da torrada e vai metendo bala. Se não tem intimidade, tudo que está ao seu redor perde o interesse. Você não se concentra mais nas pessoas e no que elas estão dizendo, você pensa apenas quantos segundos ou minutos tem que aguardar para pegar o próximo salgadinho sem parecer uma desesperada. A conversa começa a perder o ritmo. E a coisa só fica pior quando você percebe que existe outra pessoa gulosa na roda. Começa um confronto silencioso, "pqp, esse safado tá comendo muito rápido, vai acabar tudo". Aí você apressa o passo, tentando não perder a elegância, que esse escroto não tem pudor algum em perder. 

Dividir comida também é um problema. Peraí, deixa eu explicar. O egoísmo não chega a tanto! No meu caso, não tenho problema em dividir a comida que está dentro de uma panela, e cada um pôr no seu pratinho o que tem vontade de comer. O problema é quando você faz o seu prato com uma quantidade mediana de comida, cria a expectativa de comer tudo que ali está, e vem algum folgado roubar o que há de melhor no recipiente. Situação pior: quando você guarda, por exemplo, aquele sushi mais gostoso pro final, e vem uma pessoa cheia da intimidade dar uma roubadinha. Dá logo uma pontada no coração. A boca fica salivando com a expectativa da mordida perdida. 

E quando querem um pedaço de um bocadinho de comida, como uma trufa? A mordida extingue logo 40% da bolinha. Prejuízo para a trufa e para o bolso. Pague logo metade dessa danada, camarada! 

O momento da divisão em fatias de alguma comida também é um conflito. Se você tem irmãos selvagens, pior ainda. A partilha de uma pequena torta ou de uma pizza, pode gerar grandes discussões. "Ei, o seu pedaço tá bem maior que o meu!". 

É feio, muito feio. Pecadinho egoísta pra caramba. Juro que estou tentando me tratar, pra me transformar apenas numa comiloninha, e não numa gulosa.

Por outro lado, os pecados também têm o seu caráter transgressor; e mais uma vez a questão de gênero aparece. Ser uma mulher comilona também é ser passível de julgamentos machistas. Um homem comilão demonstra sua virilidade, voracidade, quase um reflexo que é comedor em outro níveis. Ele é um selvagem, um homem das cavernas. Precisa comer muito, para fazer todas aquelas atividades que exigem do seu físico de macho (eu digo: RUM, até parece, trabalhadorzão!). Já as mulheres têm que comer pouco, para deixar comida suficiente para o seu macho ou para a prole. Devem demonstrar também que é alguém que não dá muitas despesas, e claro, não vai engordar muito.

É assim que o patriarcado interfere até no seu apetite! Tá de brincadeira, né? É por isso que não só se revoluciona na luxúria, há revolução na gula também!

Então, não subestime a gula no seu poder de destruição social; nem no de revolução. Pode pegar o pote de Nutella e detonar, amiga. Só não esqueça de deixar umas colherzinhas pra turma. 





quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
11:14 6

“Não ande com brasileiros”


Em 2008, resolvi me aventurar num intercâmbio na Europa. A cidade escolhida: Lyon, França.

Antes de embarcar, além de todos os preparativos formais, todas as coisinhas para listar e não esquecer de pôr na mala; várias pessoas vieram me fornecer algumas sugestões, solicitadas e não solicitadas. O que vestir, o que não levar na mala, o que comprar aqui, o que comprar lá, alerta para o mau humor francês, etc, etc.

Sem dúvida, um ponto em comum entre as diversas recomendações era o tal de “não ande com brasileiros”. Era a sugestão dada geralmente por quem nunca tinha tido a experiência de fazer um intercâmbio, mas que conhecia alguém que tinha ido e que tinha feito a grande bobagem de interagir demasiadamente com brasileiros.

É uma preocupação compreensível, e por isso muita gente viaja com isso na cabeça. Fazer intercâmbio é o momento de você conhecer uma cultura totalmente diferente da sua, você precisa praticar o idioma estrangeiro e se tornar fluente, precisa se inserir no cotidiano daquele contexto. Enfim, são coisas que o convívio com pessoas da mesma nacionalidade podem interferir para uma inserção mais profunda.

Cheguei lá, com um grupo de brasileiros da mesma Universidade, e pensei que até seria bom me distanciar um pouco deles quando estivesse totalmente estabelecida. Só que além destes, dezenas de outros brasileiros de outros estados e regiões também estavam chegando por lá. E aí, não teve mais jeito, passei a conviver com todos, e fui totalmente conquistada.

Não me culpem, os brasileiros e as brasileiras são irresistíveis. E digo o porquê.

Porque no meio daquela calmaria francesa, quem rompia o silêncio com gargalhadas gostosas e altas, só podia ser o povo do Brasil. Aliás, percebemos que somos bons nisso de dar risadas. E que somos um tanto escandalosos também, porque vez ou outra tinha quem viesse reclamar do barulho.

Começou a nevar. Com quem partilhar tamanha emoção? Com os amigos brasileiros, claro. Deitada na minha caminha, bem displicente, recebi um monte de mensagens: "Mariana, olha a janela!", ou, "Neveeeee!!!". Depois quando perdia a graça tanto branco e tanto frio, também sentávamos e nos lamentávamos com saudade do sol.

Se não andasse com brasileiros, eu iria perder a oportunidade de falar várias atrocidades em português na cara de algum francês chato, ou até elogiar descaradamente um francês gatinho sentado no assento da frente no metrô. E ainda fazendo a atriz, com expressão de quem estava falando sobre o tempo.

E mais, como poderia resistir a três estudantes de moda do Ceará, com aquele sotaquinho de Fortaleza, meio Norte, meio Nordeste, e assim... como posso dizer pra "tchi"... alegres, coloridas e criativas. Dava logo vontade de dizer, "vamos ser amigas?".

Que graça teria se não tivesse os cariocas chamando atenção na pista de dança, com seu estilo de dançar único, desafiando minha falta de remelexo no quadril e deixando as francesinhas (e outras gringas) enlouquecidas? Como eu teria contato direto com fofocas sobre artistas globais e outras celebridades, verificadas in loco!? Babados fortíssimos e exclusivos.

E os paulistas? Tive oportunidade de conhecer uma variedade de sotaques que passa pelos VJs da MTV, vai pra comunidade italiana e termina no linguajar dos manos. Uma puta vida difícil que eles levavam na capital paulista; três horas ou mais pra pegar a "condução" pra chegar no "trampo" ou na "fefelesh" (FFLCH). Sempre gargalhando na cara de quem precisava acordar "cedo" no outro dia, porque cedo não é 7 ou 8 horas da manhã; um verdadeiro metropolitano só reclama quando tem que levantar pelo menos às 4 horas!

Não poderia deixar de falar dos vizinhos pernambucanos. De vez em quando tratavam nós paraibanos como um irmão mais velho pentelhando o caçula. Enchiam o saco dizendo que éramos pequenos e inaptos, mas no fundo nos amavam e se identificavam conosco. Coisa mais linda aquele povo do Recife, com suas camisas do Sport, do Náutico e do Santa Cruz. Maior orgulho do mundo de onde vieram, e com razão. Sempre fazíamos uma união pró-Nordeste, pra desafiar o novo amiguinho que queria rir do nosso sotaque. No final, já estávamos pelo menos a contagiar os artigos antes de nomes próprios, e tinha quem chegasse a soltar um "oxe".

Sem falar nas pessoas de outros lugares do país: as sulistas lindas e bacanas, com suas expressões diferentes; os mineiros gentis com o sotaque mais fofinho do mundo; fora, claro, meus queridíssimos conterrâneos, que foram verdadeiros brothers and sisters.

Aí foi isso, fui conhecer o estrangeiro, e acabei também conhecendo o Brasil. Não, não, não montei nenhuma comunidade brasileira, nem fiz parte de um gueto. Aprendi francês, comi escargot, aderi à rabugentice para momentos adequados. Agora o melhor de tudo: fiz muitos amigos. Da França, do mundo todo...  porém, não vou mentir, os mais especiais moram aqui do lado e têm o lugar mais especial no meu coração.








terça-feira, 28 de janeiro de 2014
06:41 9

Os vinte e muitos anos - mais uma história de crise

Outro dia acordei pela manhã, dei aquela lavadinha no rosto com meu sabonete anti-acne, e depois de uma observação mais atenta ao espelho, percebi que estava não só com um, mas com quatro fios de cabelo branco na minha franjinha juvenil.

Com um misto de surpresa e insatisfação com esse sinal do tempo, prontamente providenciei de arrancá-los todos.

É... não tenho aceitado com muita leveza esta nova fase da vida. 

No fundo, sinto que sou a mesma pessoa de 10 ou 15 anos atrás, e aquela maturidade que imaginava que teria aos vinte e muitos não chegou naquele ponto que eu esperava. Apesar de muitas opiniões mudarem da adolescência para a vida adulta, continuo tendo medo de espíritos e outros seres desconhecidos quando ando no escuro à noite; durmo do ladinho da minha mãe de vez em quando; e ainda não me acostumei com homens de mais de 40 anos dando em cima de mim sem considerá-los pedófilos (me achando a própria pré-adolescente ainda...).

Os vinte e muitos anos na verdade têm sido um período meio limbo pra mim. Quando você começa a se dar conta que existem algumas fases da vida e que você tem que se preparar para cada uma delas, esta dos vinte e muitos anos meio que me passou batida pelos referenciais que eu tinha. Acho que imaginei um pouco a geração dos meus pais, que depois de terminar a faculdade, rapidamente já se encontrava um trabalho, já se casava e tinha filhos. 

Daí, qual é a situação que você se depara depois de se formar? Encontrar um emprego decente é uma tarefa árdua pra caramba. Você tem que optar entre um emprego escravo no mercado privado, ou, pelo serviço público, que você tem de abdicar de diversas coisas pra ter tempo de estudar para um concurso, e decorar todos aqueles prazos idiotas e pegadinhas escrotas. 

Se casar e, principalmente, ter filhos também não faz parte do plano - porque você quer ter um sono tranquilo pelo menos até a idade de Cristo -, você se pergunta: afinal, em que consiste esta maldita fase dos vinte e muitos anos?

É ridículo, mas fiquei meio animada depois que percebi que em Friends e em How I Met Your Mother, as primeiras temporadas iniciam com seus personagens nesse período da vida, e são seriados divertidos que contaram muitas histórias e duraram bastante. Só que de alguma forma a galera tem dinheiro para ter apartamentos legais, espaçosos e bem localizados. Enquanto no seu primeiro empreguinho dos vinte e muitos, só dá pra alugar um apartamentinho furreca - isso, claro, se você não trabalhou que nem um escravo no ramo privado, ou se não estudou que nem um condenado por pelo menos uns dois anos pra entrar no alto escalão do serviço público. 

Se dizem que a adolescência é a fase da auto-afirmação, eu discordo e digo que esta é a verdadeira fase da auto-afirmação. É uma pressão enorme para você mostrar o seu valor, porque sente que é o momento de colocar a sua marca no mundo, fazer algo importante, contribuir para algo de grande impacto para a vida de algumas ou muitas pessoas. É o momento de você mostrar quem você é e o que pode oferecer. E é tão desgastante às vezes, porque esse tipo de coisa não vem de uma hora pra outra. 

Decidi, então, que vou arrancar meus cabelos brancos enquanto puder, e continuarei a usar o meu All Star de vez em quando, porque não dá assim pra envelhecer de uma hora pra outra. Tem gente que já incorpora o espírito: faz aquelas luzes no cabelo que envelhecem 15 anos, coloca um salto alto de oncinha e chama todo mundo de "meu amor". Evito esse tipo de aceitação ainda. No entanto, caminho por esse começo da vida adulta, fazendo mudanças aos poucos, porém qualitativas. Agora sem desanimar e cair no chocolate e no seriado de zumbis. Um dia eu chego lá, aproveitando cada pedacinho da vida, e o que ela tem a oferecer. E lembrarei desta fase com carinho, porque vai ser o momento que saí do meu conforto de menininha de classe média para realizar algo só meu. E se for mais tarde, Sex and The City tinha protagonistas com mais de 30 anos, dá pra bombar e encarar altas aventuras depois disso também. Caso contrário, ainda vão criar algum seriado legal pra depois dos 40 ou 50 pra gente se espelhar. 

PS: A vida não é como um seriado de comédia, eu sei. Mas eles fazem a gente sonhar. Deixa eu sonhaaar! 










terça-feira, 21 de janeiro de 2014
17:52 3

É tudo verdade: documentários interessantes


Os documentários sempre nos dão a oportunidade de conhecer histórias reais e surpreendentes. É um dos meus gêneros favoritos. Este post tem sugestões de alguns dos que mais me chamaram atenção nos últimos tempos. 

Procurando Sugar Man (Searching for Sugar Man, 2012)

Um músico americano, descendente de imigrantes latinos, chamado Sixto Rodriguez grava dois álbuns no início dos anos 1970 com a promessa de virar um grande nome da música. Os produtores na época estavam muito entusiasmados com o seu talento, e acreditavam fortemente no seu sucesso. As letras tinham enorme qualidade, comparáveis às de Bob Dylan; a voz dele era muito bonita e tocante. Só que... não bombou. Os álbuns foram um grande fracasso nos Estados Unidos.

Rodriguez, então, retoma sua vida como trabalhador da construção civil e passa anos como um cidadão comum. Enquanto isso, misteriosamente um dos seus discos foi parar na África do Sul, e virou uma verdadeira febre entre os afrikaners desfavoráveis ao apartheid. Seu sucesso lá era comparável ao dos Beatles ou ao dos Rolling Stones. Só que ninguém sabia nada sobre Rodriguez. Vários mitos foram criados sobre seu paradeiro e também sua morte. 20 anos depois, dois sul-africanos encararam a empreitada de descobrir o que aconteceu com esse homem. A história é linda, surpreendente e ainda ganhou o oscar de 2013.

Jonestown: Vida e Morte no Templo do Povo (Jonestown: The Life and Death of Peoples Temple, 2006)

Alerta máximo antes de assistir a esse filme! O negócio é de um baixíssimo astral. Vai sugar suas energias e você vai ficar sem dormir, andando de olho arregalado por uns três dias. Só sosseguei quando todo mundo aqui de casa assistiu, e a gente pôde compartilhar essa negatividade juntos.

Esse documentário conta como aconteceu o massacre de Jonestown. Se você nunca ouviu falar disso, tratou-se do maior suicídio coletivo da história, com mais de 900 mortos. 

Tim Jones era o líder de uma seita religiosa que começou nos Estados Unidos. A ideia do cara era bem interessante: fazer uma igreja que aceitasse pessoas de todas as origens, idades e raças. Tinha uma proposta bem acolhedora, seus cultos eram animados e por isso, acabou conquistando milhares de fiéis. Só que o líder Tim Jones era um piradão, manipulador, megalomaníaco; tinha prazer em dominar as pessoas, e muitas coisas estranhas aconteciam nos bastidores desse grupo. 

Até que começaram a denunciar algumas condutas do líder e do grupo, e Tim Jones teve a ideia de construir uma comunidade isolada, só com os adeptos da sua religião, na Guiana. A cidade se chamaria Jonestown, o local da fatídica baixastralidade. 

O filme mostra a vida de Tim Jones, como a seita surgiu e se desenvolveu, até o dia do suicídio coletivo. Tem depoimentos com antigos fiéis e sobreviventes do massacre em Jonestown (que não chegam a uma dezena), é muito rico em imagens da época e tem áudios do dia do evento (me-do). O filme é muito bom, muito bem feito, e é muito interessante pra gente se dar conta do poder do carisma de um líder, a ponto de dar no que deu. 

O documentário pode ser visto no Youtube, com legendas em português. Eu não vou colar o link aqui, pra não infectar meu blog de energias negativas. 


Miss Representation (Miss Representation, 2011)

Se você é daquelas pessoas que acredita que o feminismo já não serve pra nada, porque as mulheres já alcançaram a igualdade que almejavam, assista a esse filme e mude de ideia. Se você é feminista, e ainda não assistiu, veja e fique mais revoltada. O filme mostra as representações das mulheres na mídia, e como elas são expostas (e avaliadas) nas artes e na política. Denuncia a perpetuação de estereótipos, a falta de respeito nos espaços públicos, o culto ao corpo e à juventude feminina. Peguei a dica no blog de Lola (ídola) há um tempo, e repasso por aqui. 


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
06:45 9

Seria o humor incompatível com as mulheres?

Não é preciso muito esforço pra perceber que não existem muitas mulheres no mundo da comédia, e há quem diga que encontrar uma mulher engraçada no convívio diário é uma tarefa difícil. Mulheres comediantes sempre são vistas com certa desconfiança ou, pelo contrário, até com muito entusiasmo, porque realmente não é algo tão comum. Nos últimos anos, algumas atrizes divertidas vêm despontando nesse meio, mas ainda são muito poucas. Por que será? Seria o humor uma questão de gênero? 

Outra vez, vi uma entrevista com uma antropóloga chamada Mirian Goldenberg, que na época lançava um livro fruto de uma pesquisa que investigava diferenças entre homens e mulheres. Goldenberg mostrava que a maioria dos homens se divertiam mais com outros homens, e que as mulheres também se divertiam mais com pessoas do sexo masculino. Na lista de pessoas mais divertidas para as mulheres, as suas amigas ostentavam um papel totalmente secundário na hora de dar umas risadas. Amigos homens, maridos, namorados e outros ficavam na frente das suas parceiras. Para os homens, o quadro era parecido. Pessoas do sexo feminino especialmente não costumavam diverti-los. 

Lembrei de algumas vezes que participei de conversas de bar com uma mesa predominantemente masculina (e mais machistinha) e percebi que, para determinados grupos, as mulheres não passam de meros adereços, acessórios. Sabe aquela história, "vamos pegar umas cervejas e umas mulheres"? Como se cervejas e mulheres fizessem parte de categorias análogas. Então. Nesses grupos, elas mal participavam da conversa, raramente introduziam algum assunto. Os homens riam e se divertiam horrores, eram sempre os protagonistas das histórias; e as mulheres apenas acompanhavam aquilo tudo. Será que não há o que falar? As mulheres são tão sem senso de humor assim? 

Duvido muito que isso seja uma questão cromossomial. Uma resposta óbvia, e eu não estou inventando a roda aqui, é que desde muito pequenas somos preparadas para sermos mulheres atraentes, para conquistar, claro, um bom relacionamento e consequentemente um bom casamento. Para isso, você tem que ser linda, meiga, reservada, recatada, limpinha, falar e rir baixinho como uma princesa, e ainda ser sexy. Ai, meu irmão e minha irmã, não há quem possa ser engraçada para alcançar todas essas supostas qualidades. Para parecer uma futura boa esposa, não dá pra rir de si mesma.

É complicado relaxar pra falar alguma coisa quando desde cedo vários assuntos lhe são censurados para você alcançar o paradigma da mulher ideal. Falar de situações engraçadas que envolvam algum constrangimento quase sempre são mal interpretados. Escatologia, então? Proibido. Onde já se viu uma mulher falando sobre coisas nojentas? É uma verdadeira luta diária que as mulheres enfrentam para parecerem isentas do universo da excreção. Isso faz, inclusive, que elas sofram muito mais de prisão de ventre. Não é à toa que o Activia captou logo quem seria o seu nicho. Aí pronto, falar sobre o assunto nem pensar. Contar alguma história engraçada sobre dor de barriga, por exemplo, que é um assunto que rende histórias engraçadas, não pode entrar na roda, porque aí você está expondo para todo mundo que faz number two. E isso é segredo, secretíssimo. 

Há alguns anos vi um programa da MTV, aquele com Marina Person, que se chamava Meninas Veneno, onde um grupo de mulheres falava sobre um tema predeterminado; e num desses episódios surgiu o assunto depilação. Marina Person, mais espontânea, falou daqueles dias que a gente deixa uns pelinhos mais crescidos, que dá aquela preguicinha normal de se depilar e tal. Jogou o tema pra dar um toque de humor e pra buscar a identificação das outras participantes. Como o assunto do dia tinha reunido umas mulheres mais frescas, essas moças que ali estavam negaram a possibilidade de existir um dia sequer em que não estivessem depiladas. Como assim, né? Peraí, minhas amigas. Até pra se depilar você tem que estar peluda. Que história é essa? Claro, minha gente, tinham que manter a magia do filme pornô da mulher totalmente lisinha, porque aí, adeus, pretendentes! 

É até meio confuso. Castidade, "pureza", atriz de filme pornô. Complicado... mas dizem que mulher tem que ser tudo isso ao mesmo tempo. E ao mesmo tempo não ser. Vigi! É assim mesmo. Não há saída. 

Claro, o humor não se resume a questões de higiene pessoal e tal. Não dá pra rolar uma boa stand-up comedy se resumindo a esses assuntos. O problema é que pra ser engraçado ou engraçada, em muitos casos, precisa-se de um certo desapego à vaidade e ao senso de ridículo, que às mulheres por muito tempo não foi permitido.E por isso, o apelo deste texto é esse. Desapeguemos um pouco dessa vaidade, meninas. Vamos liberar a comediante que existe dentro de nós. Mais leveza, mais diversão. Teste para 2014: próximo bloco Cafuçu pintar um dentinho e uma monocelha. Haha. Pedi muito, né? Mas vocês entenderam... :)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
07:47 2

Trivial, porém especial

Depois de passar tantas horas da minha vida comendo e comendo, mais do que todas as outras pessoas ao meu redor, era normal que eu desenvolvesse algum abusinho em relação ao que se tem de mais trivial e bem reputado no universo da culinária.

Assim como pode acontecer com tudo, com boys magia, com a música (Wonderwall – Oasis), com o cinema (Titanic), acontece com a comida.

Sou daquelas que fica verdadeiramente irritada quando tenho que pedir comida para uma quantidade grande de pessoas, e sempre, sempre vem aquele amigo com mais frescura e temente a inovações, que come arroz com ovo no almoço desde 1990, e vai num restaurante italiano, “pizza calabresa!”, vai num restaurante chinês, “frango xadrez!”, vai comprar um pote de sorvete, “creme!”. E você é obrigado a comer aquilo que já foi especial pra você um dia, mas que queria deixar no passado, pois seu sabor e odor já estão guardados para sempre.

No entanto, algumas vezes fui rendida pelo comum, depois de ceder aos pedidos do coletivo da minha mesa, ou depois de dar aquela provadinha na comida alheia. Este post tratará sobre esses pratos surpreendentes, que tinham tudo para ser só mais um desses que você encontra em qualquer lugar, mas que tinham um quê a mais que os tornavam muito melhores do que todos os outros.

Na minha humilde opinião, eis alguns pratos triviais, porém especiais (os preços estão aproximados, mas quando puder vou colocando o valor exato por aqui) :

Rubacão com carne de sol do Café São Jorge 

Para quem não é dessas bandas de cá, pode não ser comum, mas quem vive por aqui sabe que o rubacão é um dos pratos mais comuns da culinária nordestina. Lembro que da primeira vez que provei, fiquei encantada. Comia horrores, até pesar bem na barriga. Daí claro, com o tempo, ele foi perdendo sua magia. Alguns restaurantes também o desonraram colocando mais ingredientes do que ele já deveria ter. Até que fui ao Café São Jorge, e tive a oportunidade de provar o mais maravilhoso rubacão de todos os tempos. Com a quantidade de ingredientes certa, uma cremosidade maravilhosa, e um toque todo especial com uns pedacinhos de alho tostados e umas sementes de gergelim (suponho que seja gergelim), que dão uma textura super interessante ao prato. E claro, a carne de sol maravilhosa super bem preparada, desfiadinha. Custa, se não me engano, 18 reais. 


Pizza de Frango com Catupiry do Divina Itália

Lembro quando era pré-adolescente e ouvi falar pela primeira vez do tal do queijo Catupiry. Ele era descrito com muito entusiasmo pelos jovens mais antenados e viajantes que o conheciam antes de mim. Depois que provei a mistura de pizza de frango com catupiry, foram anos dependente desse sabor. Não havia dificuldade para escolher nos restaurantes, nas entregas em domicílio. Porém, como tudo que a gente come demais, pode acabar tendo o triste fim do enjoo; rejeitei o sabor em boa parte da última década.

Até que fui rendida pelo meu namoradinho (que gosta até hoje de sorvete de morango) a provar a pizza de frango com catupiry do Divina, que ele acabava de ter provado e elogiado horrores. Eu que tinha esnobado na minha mente a sua escolha, e estava satisfeita comendo minha pizza de pesto, resolvi conferi. E ele tinha razão, era a melhor pizza de frango com catupiry de toda a João Pessoa!

Claro que isso vai depender do seu gosto pra pizza, como combinamos no fato de gostar da massa bem fininha e crocante, se for também o seu caso, essa pizza parece a ideal. Tem o defeito enorme, de ser apenas uma pizza individual (esses restaurantes mais arrumadinhos rejeitam de todas as formas pratos pra mais de três pessoas, whyyy?). No entanto, tem a qualidade de ser um dos pratos mais baratos do cardápio, que no geral não é muito Brasil não – saudade, Peixe Urbano –, custa cerca de 25 reais.


American Cheeseburguer do Blue 

O Blue é um restaurante que maltrata muito o meu saldo bancário no fim do mês. Como boa parte de tudo que é bom neste mundo capitalista selvagem, é um restaurante de pratos maravilhosos, porém que pesam bastante no bolso. Mas também, se eles fizerem cuzcuz com ovo, vai ficar incrível, sofisticado e ter um toque de alguma coisa que o deixa melhor do que em qualquer outro lugar. No entanto, o que assusta mesmo são os preços dos pratos principais. As entradas e as sobremesas têm um preço que dá pra pagar; e você vai gostar desta dica, porque ela está inclusa no rol das entradas. Não sei realmente como a gente encaixa um prato como entrada e outro como prato principal, sei que esse te alimenta como um prato principal muito bem. E tem um sabor incrível. O hamburguer é bem gordinho, com carne de verdade (indireta pro Mcdonald's), super suculento, e acompanha fritas e molhinho gostoso. Custa 20 e poucos reais.

Torta de frango da La Suissa (Campina Grande) 

Pessoenses despeitados diriam que as 14 melhores coisas de Campina Grande são o Treze e a saída para João Pessoa. Um pessoense um pouco menos despeitado diria que as 14 melhores coisas de Campina são o Treze e a La Suissa. Se algum campinense estiver lendo, não tem nem graça essa sugestão aqui. A torta de frango da La Suissa já está incorporada ao povo campinense há pelo menos uns 15, 20 anos. A massa mais incrível, fininha, sedosa; o recheio mais maravilhoso. A La Suissa é sempre parada obrigatória quando vou por lá só pra saborear essa delícia.


Endereços:

Café São Jorge: Rua Conselheiro Henriques, Casarão 90, Centro.
Divina Itália: Rua Targino Marques. 56, Tambaú.
Blue: Av. Presidente Epitácio Pessoa, 1851, Hotel Village.
La Suissa: Rua Irineu Joffily, 176, Centro e Shopping Boulevard - Campina Grande

Fotos:

Do facebook
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
06:48 0

Vergonha do sotaque


Não só de mancadas vive a Rede Globo. A minissérie que estreou na semana passada, “Amores Roubados”, tem sido uma grande surpresa. Além da narrativa interessantíssima e outros aspectos técnicos, a atuação tem me surpreendido particularmente na simulação dos sotaques dos atores de fora do Nordeste e da inserção de ótimos artistas da nossa região, como Irandhir Santos.


Parêntesis. Quem diria que Cauã Reymond, o famigerado Mau Mau de Malhação, quase um sucessor de Igor Cigano na época, evoluiria a ponto de se tornar um grande ator? E com um sotaque nordestino bastante verossímil!



Admito que parte do meu entusiasmo com a minissérie se deve ao fato de que, por muitos anos, nosso povo e nosso sotaque tem sido quase que completamente invisibilizado pela TV brasileira. Lembro que quando era criança, chegou uma certa idade que entrei numa crise sobre a minha origem. Nascida em Campina Grande, na Paraíba, eu percebi que meu estado não aparecia nos filmes nacionais, nas novelas. O Jornal Nacional passou anos sem nunca ter indicado o clima do meu estado, e as novelas que possuíam “temática” nordestina em geral, caricaturavam e reproduziam muito mal os nordestinos. Nosso sotaque era entoado de forma jocosa, a ponto de ser tosco. 



Criança percebe logo a hierarquia de privilégios no mundo. Com pouquíssima idade, já se sente contrariada quando seus pais não possuem um carro vistoso, uma casa espaçosa ou qualquer outra coisa que demonstre riqueza ou poder. Notei cedo que parecia não ser bacana ter nascido na Paraíba, e que legal era ter nascido no Rio de Janeiro ou em São Paulo (pois tudo aparentemente acontecia lá), torcer pra um dos seus times, como o Flamengo (era o time de Xuxa), falar com artigo antes de nome próprio, e chiar seletivamente nas sílabas com “t” e “d”.

Aí você vai crescendo e vai percebendo que isso é um fenômeno geral. No jornal local, o(a) apresentador(a) é obrigado(a) a falar com o sotaque “neutro”, que na verdade é um misto de paulista com carioca. Quando algum(a) entrevistado(a) fala no mesmo jornal local, muitas vezes desperta estranhamento no próprio espectador nordestino. Quando alguém responde uma indagação com a tal da frase “com certeza”, dita bem cantadinha e com o “t” bem forte, na pontinha da língua, não raro tem alguém da região que diga "doer os ouvidos", estranhando e ridicularizando o próprio sotaque. 

Tive a oportunidade de ir a Encontros e Congressos Nacionais, e em algum momento de apresentação dos presentes, flagrei colegas paraibanos forçando um sotaque que não tinham para se direcionar ao público. “Boa tardji, meu nome é Fulano, e eu vim da Faculdade dji Djireito da Federal da Paraíba” (???).

Outra vez, uma amiga que trabalhava numa franquia de uma grande perfumaria nacional me disse que a norma repassada pela dona é que era terminantemente proibido falar com sotaque nordestino. Todo mundo da Paraíba, numa perfumaria na Paraíba, era obrigada a falar “sem sotaque”. Se a dona escutasse um “d” ou um “t” nordestinês, ou qualquer outra expressão que remetesse ao nosso sotaque, era repreensão na certa.

Claro que fui crescendo e fui percebendo que tudo isso era uma enorme violência contra a nossa cultura, contra a nossa identidade. Lembro que na época que me aventurei rapidamente no curso de Jornalismo, tive que ler o livro “Preconceito Linguístico”, de Marcos Bagno, que me abriu muitíssimo a mente. Ele desmistificava vários mitos sobre o “português correto”, como especulações sobre em qual lugar do país fala o “melhor” português e coisa e tal. E marcou muito um comentário que ele fez sobre o tal do “oitcho”, que é falado em alguns lugares do Nordeste. Falar o número desse jeito, muitas vezes é considerado “ridículo”, “estranho”, “errado”. Só que se trata do mesmo fenômeno linguístico que o “tchi” sudestino, apenas com uma vogal diferente. 

Se a linguagem reflete o mundo em que vivemos, o que é considerado certo ou errado, bonito ou feio, quase que sempre representa as relações de poder de uma determinada sociedade. Quantas vezes não convivi com pessoas do sudeste e fui corrigida por falar algum regionalismo ou simplesmente uma palavra, presente inclusive no nosso dicionário, mas que não era conhecida ou comum em outras regiões? Inúmeras vezes. No entanto, que culpa eles têm? Se muitas vezes estranhamos a nós mesmos, imagina quem ouve de fora?

Vejo, então, a minissérie “Amores roubados” com muito entusiasmo, talvez representando um marco na TV brasileira, vendo por esses aspectos que tratei. Fico muito feliz também com o espaço que o cinema nordestino tem conquistado nacionalmente, com filmes incríveis e representativos do nosso povo, como “O som ao redor”. É uma forma de marcarmos presença neste país, e passarmos por um processo de desestranhamento. Quem sabe nós e todo mundo um dia vai perceber o quanto também somos lindos.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
10:54 3

Leitura de férias: "A história do amor"



Não, esta gatíssima aqui do lado não sou eu! É a minha irmãzinha Mônica Nóbrega, que agora será minha parceira de blog fazendo posts sobre literatura.

Se fiz esse blog com a esperança de um dia comer de graça em vários restaurantes, Mônica sonha com o dia que as editoras mandarão livros pra ela. A danadinha compra e lê uma penca de livros por mês, e chegou a hora das livrarias e editoras darem um retorno.

Como temos o gosto muito parecido para tudo, confio demais nas suas sugestões de livro. Chegou então a hora de compartilhá-la! Eis o seu primeiro post:


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Sempre tive uma relação muito sentimental com a literatura, o que define bastante a maneira como procuro livros para ler. O que tento fazer é buscar algo que combine com o sentimento que estou tendo, e assim possa meio que fazer uma catarse através do livro do meu momento presente. Parece meio doido, mas não é tanto.

Isso me leva a crer (nada muito extraordinário, meio senso comum) que gostar de um livro é muito do que cada pessoa está passando. Quem já não leu uma obra ou até viu um filme que achou péssimo e, depois, em determinado momento da vida, desfez a impressão inicial? Acho que todos vamos concordar nesse ponto.

Feito essa introduçãozinha - talvez um pouco estranha, mas já já vai fazer sentido -, neste mês tipicamente de férias, minha sugestão de livro é para você que, depois de ter feito muito coisa estressante no ano passado, quer ficar lendo em casa um livro agradável, mas não algo bobo; um que te acompanhe nesses momentos ociosos, em que ficar na cama é simplesmente uma necessidade.

A obra que irá inaugurar a parte literária do blog da minha irmã Maribs se chama “A história do amor” de Nicole Krauss, lançado em 2006. O título é um pouco brega, sejamos sinceros, e leva a um estranhamento logo de início (sério que você vai indicar esse livro? Vixe, com certeza vai ser um daqueles chicklits horríveis).

Caros leitores (já me sinto íntima e acho que tenho leitores), não se assustem com o título, não é um chicklit (que analisando bem é um nomenclatura muito da machista, só por ser de mulher tem que ser pejorativo? “Livro bom é livro de homem” é isso mesmo?), longe disso, é um livro muito bem estruturado e com uma história que, garanto, depois das primeiras páginas, vai te segurar pra querer ir até o fim.

Eu topei com esse livro pesquisando sobre obras que falassem sobre amor, após ter ficado extremamente insatisfeita com as sugestões que encontrava. No geral, acabei me deparando com histórias altamente superficiais que sempre me faziam largar a leitura. Sinceramente, existe coisa mais difícil na literatura atual do que encontrar livros realmente bons no qual o amor seja parte central da trama? Apesar de ser um livro sobre amor, devo alertar, não é um livro romântico. Assim, até pode ser de uma maneira bem melancólica, mas se o seu propósito é um livro “boy meets girl” ou “girl meets boy”, esta não é a leitura recomendada; apesar de achar que qualquer pessoa com uma sensibilidade mínima vai adorar o livro.

Sem mais delongas, a narrativa começa apresentando Leo Gursky, um imigrante polonês nos Estados Unidos fugido do nazismo, que viveu uma história de amor que repercutiu em toda sua vida. Na sua juventude foi um aspirante a escritor, mas, em razão das circunstâncias da vida, acabou como um chaveiro em Nova York. Nos capítulos seguintes são introduzidas duas novas personagens principais: Alma e Litvinoff. Alma é uma adolescente que tenta lidar com as questões de sua idade, como também com a ausência de seu falecido pai. E Litvinoff, um não muito conhecido escritor polonês que, para fugir do nazismo, acabou imigrando para o Chile.

A conexão entre as histórias das personagens é feita em torno do livro “A história do amor”, mostrando o poder que a literatura exerce em escritores e leitores. Cada capítulo é dedicado a uma personagem. Essa estrutura funciona bastante, porque faz com que você compreenda e se familiarize com cada um deles, tendo também, ao longo da história, transcrições de trechos do livro que, ao avançar na narrativa, vai mostrar a real ligação entre todos. O livro já tinha me ganhado poucas páginas após o início, mas foram nessas transcrições que ele realmente me arrebatou. A autora expõe o amor de uma forma tão delicada que cheguei a ficar arrepiada lendo.

O que mais me chamou atenção antes de iniciar a leitura foi o fato de ser um livro que busca mostrar a importância de um livro e da escrita. Não é uma mera metalinguagem “um livro sobre um livro”; é uma obra sobre a força da escrita e o seu poder de transformação na vida das pessoas, fato que a autora já deixa bem claro nos agradecimentos “Para os meus avós que me ensinaram o contrário de desaparecer...”. Eu gosto bastante dessa temática, acho que, para quem gosta de livros, é sempre um fascínio ler sobre um fato que também exerce grande fluência sobre sua vida: a literatura.

Além de ser muito bem construído, o capítulo de cada personagem tem um estilo de escrita bem distinto do outro (e todos bem atraentes), fazendo com que a personalidade de cada um fique mais evidente. Esse é mais um “truque” que aproxima o leitor da personagem, a voz dela ganha um ritmo próprio na sua cabeça.

Esse é um daqueles livros que ao terminar de ler a pessoa faz uma grande reflexão sobre a vida e sobre a humanidade, as pessoas ganham uma nova cor para você, pois por trás de cada rosto que passa na rua, com certeza, há alguma grande história que tem o único defeito de ainda não ter sido escrita.

PS: Pra quem ainda está resistente por conta do título é bom comentar que Nicole Krauss apareceu na edição da Granta 97 de melhores autores jovens contemporâneos norte-americanos.

PS2: Assim que terminei de ler o livro fui ver se alguém tinha comprado os direitos para fazer um filme e, para minha surpresa (ou não, né? hoje em dia não é muito fácil encontrar filmes com roteiros originais), li que o Alfonso Cuáron foi o comprador. Ignorando a passagem dele pela série Harry Potter, “A Princesinha” e “E sua mãe também” são filmes bem bacanas que podem nos dar esperança para uma boa adaptação.
sábado, 4 de janeiro de 2014
15:54 10

Doçuras não triviais que você encontra em João Pessoa


Viver numa cidade de porte intermediário como João Pessoa às vezes faz com que a gente se depare com algumas frustrações gastronômicas. A rede de restaurantes não é tão vasta, as paradas vivem abrindo e fechando. Pra completar, o facebook vive divulgando aquelas publicidades com fotos de lindos pratos de restaurantes sulistas, que você sequer poderá conferir. Para quem quer sair da mesmice e não aguenta mais sorvete da Friberg e torta dois amores do Tererê, aqui vão sete sugestões de sobremesas que podem ser encontradas em Jampa:

1. Cheesecake de maçã da Empório Cookies
2. Cupcake de morango da Empório Cookies
3. Cupcake de banana da Empório Cookies

Eu queria variar na doceria/restaurante, mas eu não podia deixar passar esse trio da doceria Empório Cookies. Essa doceria me conquistou em 2013, me envolveu, me absorveu, e hoje me encontro completamente dependente.

O cheesecake de maçã é algo diferente de tudo que você já comeu. Não se trata daquele tradicional cheesecake: massa, creminho de queijo e geleia. É um mix de cheesecake e torta de maçã, que tem um sabor e uma textura fora do comum. O que contribui para isso é a massa de nozes e a camada de maçãs caramelizadas que dão todo o diferencial.

O cupcake de morango virou uma tradição familiar já. É o cupcake mais pedido disparado pela família Nóbrega e agregados. O recheio é uma coisa inacreditável, com geleia e creme de queijo, que também faz parte da cobertura, compondo uma mistura perfeita.

O terceiro pode parecer algo de sabor meio polêmico, porque a banana é uma fruta muito marginalizada pela nossa geração, mas eu garanto que é sucesso essa dica. O bolinho é feito de banana, e ele tem uma base de nutella queimadinha, que é de outro mundo. Já falaram por lá que é um dos sabores que mais saem.

O problema do Empório Cookies é que eles não repetem os mesmos sabores todos os dias, e às vezes você chega sedento por um desses três, e não tem. Principalmente o cheesecake de maçã, que geralmente só fazem no fim de semana. A dica pra não perder a viagem é dar uma ligada pra lá antes, e perguntar o que tem disponível no dia. Os cupcakes de tamanho normal custam R$6,50 e a torta custa pouco menos de R$10.


4. Chococcino da Kopenhagen

Quem nunca tentou fazer ou foi em busca do chocolate quente perfeito? Um filme mostra um dia frio. Uma bela atriz com seu casaquinho charmoso de tricot, uma caneca redondinha e estilosa. Ela saboreia lentamente aquela que parece a bebida ideal. E você luta no google, procura receitas, faz misturas de achocolatado com maisena, derrete chocolate e creme de leite em banho maria... Tudo parecia não estar certo, você sabia que aquilo poderia ser melhor. Até você ir na Kopenhagen e descobrir que eles acertaram, eles chegaram lá. Não sei o que eles põem ali, só sei que só pode ser o verdadeiro, o perfeito chocolate quente. E ainda tem pedaços de chocolate Kopenhagem no fundo! Você mete a colher lá, e vem uma quantidade linda e substanciosa de chocolate derretido. Agradeço demais à minha amiga Clara por ter dado essa sugestão. Ah, a xícara grande é 12 reais e alguns centavos.


5. Suflê de goiaba com creme de queijo do Empório Gourmet

Quem está em busca de um sabor mais suave, essa sobremesa do Empório Gourmet cumpre as expectativas. Além de um sabor incrível, a textura dessa sobremesa dá uma sensação maravilhosa na boca. Custa por volta de 14 reais.

6. Torta de maçã do Empório Café

Mais um Emporio “tananam” na lista. O Emporio Café é um bar muito do danado. Porque sua prioridade não deveria ser a sua comida, mas pra mim é. Não existe UMA coisa mal feita por lá. Além das tradicionais saladas, os doces são o seu carro-chefe. Meu favorito atualmente é a torta de maçã com sorvete de creme. A torta vem bem quentinha, pra você comer com o sorvete derretendo. Uma maravilha. Os cupcakes de lá também são muito bons, como os do emporio cookies. Pra quem não gosta de coisa muita doce, os de lá nunca erram no ponto nesse aspecto. Eles têm uma habilidade incrível de fazer doces deliciosos e não enjoativos. Eu iria destacar também o bolo de chocolate deles com baba de moça. Mas fiquei um pouco chateada, porque tenho impressão que eles mudaram um pouco a receita, e não está mais como há alguns anos.


7. Pudim de tapioca do Café São Jorge

O que é esse lugar, meu irmão? Só comida regional da MAIOR qualidade. Não poderia também deixar de ter sobremesas incríveis. Conheci há pouco tempo, depois de muitas recomendações. Fui em busca inicialmente do bolo de macaxeira, que minha irmã recomendou bastante. Mas, como quando eu fui não tinha, e não vou falar do que não conheço, provei do pudim de tapioca, que é também uma coisa dos deuses. 


Endereços: 

Empório Cookies: Av. Esperança, 1000, Manaíra.
Kopenhagen: Manaíra Shopping.
Empório Gourmet: Av. Edson Ramalho, 504, Manaíra.
Empório Café: Rua Coração de Jesus, 145, Tambaú. 
Café São Jorge: Rua Conselheiro Henriques, casarão 90, Centro. 

Fotos: 
Roubadas das páginas do face. A da Kopenhagen peguei do site.