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quarta-feira, 21 de maio de 2014
08:05 3

Arbitrariedades

Depois que você viu que não deu pra fazer fama antes dos 25 anos, não fez sucesso no mundo artístico, esportivo, intelectual ou corporativo, ou sequer sabe ainda em qual desses mundos você gostaria estar, chega um dia que você tem que traçar um plano. Não dá mais para participar das Olimpíadas, e a chance de ser um Mark Zuckerberg, um Álvares de Azevedo, uma Spice Girl passou e você tem que se inspirar nas pessoas do mundo real que conquistam as coisas mais tarde mesmo.

Meu plano tardio: seguir carreira acadêmica.

Os primeiros passos foram dados, mas tem que ter perseverança pra não desistir diante dos primeiros percalços. Estou me referindo mais precisamente às críticas e resultados negativos que são inerentes a qualquer pessoa que se dispõe a meter a cara no mundo 

Minha trágica história: Fiz um artigo que achei bacanérrimo. Achei que era um dos melhores que tinha feito. Fazia parte de uma disciplina do mestrado, e acabei o aproveitando para tentar publicação em algum congresso legal ou numa revista bem qualificada. Mandei o danadinho do artigo pra ser avaliado num congresso. Depois de esperar uns meses pela aprovação, vi que ele não tava na lista dos aprovados para apresentação e publicação. Recebi uma nota mediana, acima da média - vale frisar -,  mas não foi suficiente para entrar dentro do número máximo de pessoas permitido por grupo de trabalho.

Eu tinha a impressão que todo mundo tinha artigo aprovado nessas paradas facilmente, então eu era a derrotada, a ignorante, que não tinha capacidade sequer para participar de um Congresso que aparentemente todo mundo conseguia aprovação. Incorporei logo o "Marrie, A Estranha", e pensei ser execrada pela sociedade, ovos sendo atirados, restos mortais de animais sendo jogados sobre a minha cabeça, e alguém com uma faixa bem grande dizendo: "Este lugar não é para você". 

Drama, drama, eu sei. Porém, onde estou querendo chegar?

Terminando o drama: Duvidei das minhas capacidades, pensei por uns instantes em voltar a estudar pra concurso e seguir uma carreira nada a ver. Até que tive uma lição de vida com um programa de TV - as lições de vida podem sair de pessoas e situações que você nunca imaginaria. Foi quando uma cantora bem arrasante começou a cantar lindamente no The Voice Brasil (ok, ha-ha), e ninguém virou a cadeira.

Como assim ninguém virou a cadeira para um talento que para mim era inquestionável? E as coisas começaram a ficar mais claras. Comecei a pensar em todas as vezes que vi gente talentosíssima em várias áreas da vida terem avaliações completamente injustas ou questionáveis. E percebi como muitas vezes a avaliação de terceiros em relação a um determinado talento, ideia ou personalidade pode ser completamente arbitrária.

Quando utilizados critérios subjetivos, a coisa é particularmente escandalosa. Soube que um dos professores mais fantásticos que tive na faculdade, em termos de conhecimento, carisma e didática, foi fazer um concurso para ser professor de um outro lugar e foi justamente reprovado no que achava ser o seu maior ponto forte, na prova de didática! Quem diabos iria imaginar que algum avaliador fosse reprová-lo justamente naquilo que eu e outros alunos achavam mais especial nesse professor? Que critérios a pessoa que o reprovou usou?  

Veja bem: eu mesma, nem acho os filmes de Woody Allen engraçados. Acho a voz de Maria Gadu irritante. Não consegui terminar o segundo livro do Senhor dos Anéis porque achei chato. Perdi o tesão por Johnny Depp depois que ele fez "A fantástica fábrica de chocolates". Imagina aí se essas pessoas e obras tivessem que depender de mim para conseguir alguma coisa!

Até em critérios considerados objetivos as coisas podem ser bem escrotinhas. Quantas pessoas inteligentíssimas, desenroladas, especiais, capazes que eu conheço estão penando amargamente para passar em concurso e ainda não conseguiram? Quem faz concurso sabe que não basta ter estudado; o aspecto sorte conta muitíssimo. Cai justamente aquele assunto que você não estudou, e uma pessoa que talvez tenha acumulado muito menos conteúdo que você, teve a sorte de estudado justamente aquilo e desenrolou.

Às vezes ser bom não é o suficiente. O dia, o lugar, o momento, uma pessoa idiota podem acabar decidindo coisas importantes da sua vida, e muitas vezes você pode acabar se dando mal. No entanto, não deixe de acreditar em suas capacidades! Se você acredita que é bom e se esforça pra isso, o negócio é tentar, tentar e tentar. Sabe aquele artigo que falei? Acabei tirando 10,0 na disciplina e ele foi aceito numa revista científica conceituada, e ainda com elogios! Aquela galera do Congresso não sabia era de nada.




3 comentários:

  1. Arrasasse, doido!!!!! Mas é isso mesmo, Mari. Não existem parâmetros certos. A gente tem é que tentar e acreditar. Aqui ou acolá a gente acerta, e às vezes, como foi teu caso, acaba acertando num alvo mais alto, mais distante do que aquele que inicialmente queríamos. Aprendi com a vida: muitas vezes perder algo é a razão para ganhar bem mais. Post massa! O blog é show. Beijos. <3

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  2. fico feliz demais com seu comentário, douglas! senti a necessidade de desabafar depois de ver tanta gente desmotivada por enfrentar esse tipo de situaçao. inclusive eu. vai que serve de alento para alguém, né? e com certeza, às vezes a gente não consegue uma coisa, e a vida acabar nos preparando algo melhor.

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  3. Adorei o texto, Mari! Tive uma conversa assim com uma colega esses dias, nos perguntávamos quais critérios os avaliadores usam. A gente fica confusa, porque parece que cada um tem seus próprios critérios que a gente desconhece totalmente... E apesar dessas frustrações, não devemos desanimar e nos deixar ser atingidos por isso. E parabéns pelo artigo, esse congresso não sabe de nada mesmo! :D

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