Em 2008, resolvi me aventurar num intercâmbio na Europa. A cidade escolhida: Lyon, França.
Antes de embarcar, além de todos os preparativos
formais, todas as coisinhas para listar e não esquecer de pôr na
mala; várias pessoas vieram me fornecer algumas sugestões, solicitadas e não
solicitadas. O que vestir, o que não levar na mala, o que comprar aqui, o que comprar lá,
alerta para o mau humor francês, etc, etc.
Sem dúvida, um ponto em comum entre as diversas recomendações era o tal de “não ande com brasileiros”. Era a sugestão dada geralmente por quem nunca tinha tido a experiência de fazer um intercâmbio, mas que conhecia alguém que tinha ido e que tinha feito a grande bobagem de interagir demasiadamente com brasileiros.
Sem dúvida, um ponto em comum entre as diversas recomendações era o tal de “não ande com brasileiros”. Era a sugestão dada geralmente por quem nunca tinha tido a experiência de fazer um intercâmbio, mas que conhecia alguém que tinha ido e que tinha feito a grande bobagem de interagir demasiadamente com brasileiros.
É uma preocupação compreensível, e por isso muita gente viaja com isso na cabeça. Fazer
intercâmbio é o momento de você conhecer uma cultura totalmente
diferente da sua, você precisa praticar o idioma estrangeiro e se
tornar fluente, precisa se inserir no cotidiano daquele contexto.
Enfim, são coisas que o convívio com pessoas da mesma nacionalidade
podem interferir para uma inserção mais profunda.
Cheguei lá, com um grupo de brasileiros da mesma
Universidade, e pensei que até seria bom me distanciar um pouco
deles quando estivesse totalmente estabelecida. Só que além destes,
dezenas de outros brasileiros de outros estados e regiões também
estavam chegando por lá. E aí, não teve mais jeito,
passei a conviver com todos, e fui totalmente conquistada.
Não me culpem, os brasileiros e as brasileiras são irresistíveis. E digo o porquê.
Porque no meio daquela calmaria francesa, quem rompia o silêncio com gargalhadas gostosas e altas, só podia ser o povo do Brasil. Aliás, percebemos que somos bons nisso de dar risadas. E que somos um tanto escandalosos também, porque vez ou outra tinha quem viesse reclamar do barulho.
Começou a nevar. Com quem partilhar tamanha emoção? Com os amigos brasileiros, claro. Deitada na minha caminha, bem displicente, recebi um monte de mensagens: "Mariana, olha a janela!", ou, "Neveeeee!!!". Depois quando perdia a graça tanto branco e tanto frio, também sentávamos e nos lamentávamos com saudade do sol.
Se não andasse com brasileiros, eu iria perder a oportunidade de falar várias atrocidades em português na cara de algum francês chato, ou até elogiar descaradamente um francês gatinho sentado no assento da frente no metrô. E ainda fazendo a atriz, com expressão de quem estava falando sobre o tempo.
E mais, como poderia resistir a três estudantes de moda do Ceará, com aquele sotaquinho de Fortaleza, meio Norte, meio Nordeste, e assim... como posso dizer pra "tchi"... alegres, coloridas e criativas. Dava logo vontade de dizer, "vamos ser amigas?".
Que graça teria se não tivesse os cariocas chamando atenção na pista de dança, com seu estilo de dançar único, desafiando minha falta de remelexo no quadril e deixando as francesinhas (e outras gringas) enlouquecidas? Como eu teria contato direto com fofocas sobre artistas globais e outras celebridades, verificadas in loco!? Babados fortíssimos e exclusivos.
E os paulistas? Tive oportunidade de conhecer uma variedade de sotaques que passa pelos VJs da MTV, vai pra comunidade italiana e termina no linguajar dos manos. Uma puta vida difícil que eles levavam na capital paulista; três horas ou mais pra pegar a "condução" pra chegar no "trampo" ou na "fefelesh" (FFLCH). Sempre gargalhando na cara de quem precisava acordar "cedo" no outro dia, porque cedo não é 7 ou 8 horas da manhã; um verdadeiro metropolitano só reclama quando tem que levantar pelo menos às 4 horas!
Não poderia deixar de falar dos vizinhos pernambucanos. De vez em quando tratavam nós paraibanos como um irmão mais velho pentelhando o caçula. Enchiam o saco dizendo que éramos pequenos e inaptos, mas no fundo nos amavam e se identificavam conosco. Coisa mais linda aquele povo do Recife, com suas camisas do Sport, do Náutico e do Santa Cruz. Maior orgulho do mundo de onde vieram, e com razão. Sempre fazíamos uma união pró-Nordeste, pra desafiar o novo amiguinho que queria rir do nosso sotaque. No final, já estávamos pelo menos a contagiar os artigos antes de nomes próprios, e tinha quem chegasse a soltar um "oxe".
Sem falar nas pessoas de outros lugares do país: as sulistas lindas e bacanas, com suas expressões diferentes; os mineiros gentis com o sotaque mais fofinho do mundo; fora, claro, meus queridíssimos conterrâneos, que foram verdadeiros brothers and sisters.
Aí foi isso, fui conhecer o estrangeiro, e acabei também conhecendo o Brasil. Não, não, não montei nenhuma comunidade brasileira, nem fiz parte de um gueto. Aprendi francês, comi escargot, aderi à rabugentice para momentos adequados. Agora o melhor de tudo: fiz muitos amigos. Da França, do mundo todo... porém, não vou mentir, os mais especiais moram aqui do lado e têm o lugar mais especial no meu coração.
Não me culpem, os brasileiros e as brasileiras são irresistíveis. E digo o porquê.
Porque no meio daquela calmaria francesa, quem rompia o silêncio com gargalhadas gostosas e altas, só podia ser o povo do Brasil. Aliás, percebemos que somos bons nisso de dar risadas. E que somos um tanto escandalosos também, porque vez ou outra tinha quem viesse reclamar do barulho.
Começou a nevar. Com quem partilhar tamanha emoção? Com os amigos brasileiros, claro. Deitada na minha caminha, bem displicente, recebi um monte de mensagens: "Mariana, olha a janela!", ou, "Neveeeee!!!". Depois quando perdia a graça tanto branco e tanto frio, também sentávamos e nos lamentávamos com saudade do sol.
Se não andasse com brasileiros, eu iria perder a oportunidade de falar várias atrocidades em português na cara de algum francês chato, ou até elogiar descaradamente um francês gatinho sentado no assento da frente no metrô. E ainda fazendo a atriz, com expressão de quem estava falando sobre o tempo.
E mais, como poderia resistir a três estudantes de moda do Ceará, com aquele sotaquinho de Fortaleza, meio Norte, meio Nordeste, e assim... como posso dizer pra "tchi"... alegres, coloridas e criativas. Dava logo vontade de dizer, "vamos ser amigas?".
Que graça teria se não tivesse os cariocas chamando atenção na pista de dança, com seu estilo de dançar único, desafiando minha falta de remelexo no quadril e deixando as francesinhas (e outras gringas) enlouquecidas? Como eu teria contato direto com fofocas sobre artistas globais e outras celebridades, verificadas in loco!? Babados fortíssimos e exclusivos.
E os paulistas? Tive oportunidade de conhecer uma variedade de sotaques que passa pelos VJs da MTV, vai pra comunidade italiana e termina no linguajar dos manos. Uma puta vida difícil que eles levavam na capital paulista; três horas ou mais pra pegar a "condução" pra chegar no "trampo" ou na "fefelesh" (FFLCH). Sempre gargalhando na cara de quem precisava acordar "cedo" no outro dia, porque cedo não é 7 ou 8 horas da manhã; um verdadeiro metropolitano só reclama quando tem que levantar pelo menos às 4 horas!
Não poderia deixar de falar dos vizinhos pernambucanos. De vez em quando tratavam nós paraibanos como um irmão mais velho pentelhando o caçula. Enchiam o saco dizendo que éramos pequenos e inaptos, mas no fundo nos amavam e se identificavam conosco. Coisa mais linda aquele povo do Recife, com suas camisas do Sport, do Náutico e do Santa Cruz. Maior orgulho do mundo de onde vieram, e com razão. Sempre fazíamos uma união pró-Nordeste, pra desafiar o novo amiguinho que queria rir do nosso sotaque. No final, já estávamos pelo menos a contagiar os artigos antes de nomes próprios, e tinha quem chegasse a soltar um "oxe".
Sem falar nas pessoas de outros lugares do país: as sulistas lindas e bacanas, com suas expressões diferentes; os mineiros gentis com o sotaque mais fofinho do mundo; fora, claro, meus queridíssimos conterrâneos, que foram verdadeiros brothers and sisters.
Aí foi isso, fui conhecer o estrangeiro, e acabei também conhecendo o Brasil. Não, não, não montei nenhuma comunidade brasileira, nem fiz parte de um gueto. Aprendi francês, comi escargot, aderi à rabugentice para momentos adequados. Agora o melhor de tudo: fiz muitos amigos. Da França, do mundo todo... porém, não vou mentir, os mais especiais moram aqui do lado e têm o lugar mais especial no meu coração.
Adorei a parte sobre os pernambucanos!! =)
ResponderExcluirmuito gostoso de ler esse texto *-*
ResponderExcluirMe identifiquei MUITO :D Também adorei a parte sobre os pernambucanos, hahaha <3
ResponderExcluirhaaaaaaa amei !!! senti a felicidade que você destacou nesse lindo texto sobre os brasileiros , seja ele(a) da região de onde for !
ResponderExcluirvc foi atrás de brasileiro não foi por esses motivos. Foi pq eles são seus semelhantes culturalmente, só isso. Fui pra Espanha. Conheci gente que passou 6 meses/1 ano lá e não aprendeu nada, gente que morava lá por anos e q só sabia pq se tocou q só tava andando com brasileiro e não tava aprendendo nada. A ideia não é não andar com brasileiro 100%. É experimentar passar alguns dias da semana sem eles, fazer parte de um dia-a-dia sem falar o português, por ex. Nos meus últimos 3 meses de intercâmbio eu andava pra caramba com brasileiro, mas pela saudade, nostalgia e de consciencia tranquila, pois já havia absorvido a cultura, conseguia diferenciar um sotaque de espanhol do norte, sul ou da América. Mas senti muitas vezes saudade de falar gírias que são intraduzíveis e melhor expressadas em português nordestino/brasileiro (Ex: estou só o bagaço da laranja, armaria, man). E quer saber? Me dei mt com os brasileiros que conheci, qd viajei sempre busquei brasileiros por onde eu tava.
ResponderExcluirMas enfim, isso não é questão de andar com brasileiro, é priorizar oq vc quer. Cada um vai e prioriza o que quiser, ainda que pareça irônico quando a maioria dos brasileiros são loucos pra conhecer extrangeiros quando estão no Brasil e, quando saem, buscam brasileiros (embora compreenda).
Sim, Renan. Eu acho que deixei óbvio que a semelhança cultural era um dos motivos que fez com que fosse inevitável querer conhecer brasileiros. Falar a mesma língua confortavelmente permite com que vc fique mais à vontade pra fazer comentários, piadas, etc. No entanto, discordo que seja SÓ a semelhança cultural que torne esse tipo de contato atraente. Até porque também há bastante diversidade regional. E por isso, para mim, fazer amizade com brasileiros era interessante; por termos bastante semelhanças e ao mesmo tempo sermos diferentes.
ResponderExcluirEu fiz muitos amigos da França e de outros países, mas por MINHA preferência, gostei mais dos amigos brasileiros. E isso não me impediu que me relacionasse com os franceses, aprendesse o idioma, conhecesse a cultura. Algumas pessoas não se dão bem no estrangeiro. Normal problemas de adaptação. Tem gente que nasceu pra ficar na sua terra mesmo. De forma alguma disse que fazer o que você fez não era o mais aconselhável. Até porque é. Muito bacana pra você, ótimo! Só expliquei o que parecia incompreensível para algumas pessoas