Para quem achava que os debates ideológicos entre posicionamentos de direita e esquerda estavam ultrapassados, basta dar uma escorregadinha no feed de notícias do Facebook, ou ler os comentários de algum site de notícias, que perceberá que a promessa pós-moderna de fim das ideologias não está tão em voga assim. Há um conflito claro entre visões de mundo ocorrendo.
Nessa arena de confronto, há os que ficam em cima do muro, assistindo tudo com visão privilegiada, muitas vezes criticando os "radicalismos", os "extremismos", sobretudo das pessoas apaixonadas de esquerda. "Ingênuos/as!", "utópicos/as!", "malucos/as!" é o que dizem.
Posso compreender as pessoas que ficam em cima do muro. Até porque, eu mesma, com 27 anos de América do Sul, ainda não elaborei bem, nem decidi o que pensar sobre diversas situações; são o que dizem ser essas crises da vida. Fica realmente difícil se entregar de corpo e alma assim. Por agir dessa forma também, permita-me confessar, ficar em cima do muro é confortável demais.
Até agora, por exemplo, não me decidi se acredito em Deus ou não. Dentro de mim, eu penso que se morrer e nada acontecer, eu, no meio do nada, ainda que isso não seja possível, ria da cara de todas essas pessoas muito religiosas que abdicaram de várias coisas da vida, aparentemente inofensivas, em busca de uma grande iluminação pós-morte. Ao mesmo tempo, penso que se existir algo além-vida Deus ia ver que eu tava com uma perninha do outro lado do muro, teria compaixão de mim, computaria que eu tinha bom coração e me encaminharia para as nuvens de algodão.
Aí eu vivo assim, tranquila, achando que nada de mal vai acontecer comigo. Pois acontecendo uma coisa ou outra, eu tenho fé que vou sempre sair ganhando.
Eu imagino que é assim que se sente os em-cima-do-muro-políticos. Tudo que acontecer de bom, que convém, atribui pra si; o que der errado, não lhe pertence. E aí, passa a vida apontando o dedo indicador, às vezes o maior de todos, na cara dos outros que tomaram alguma posição. Vida boa danada. Sem culpas, sem cair nunca em constrangimento, em contradição ou em qualquer outra situação difícil.
No entanto, amigo, amiga, reflita um pouco e verifique que todas as grandes mudanças ocorridas no mundo, foram lideradas por pessoas audaciosas, que tomaram alguma posição, pessoas com várias dessas características que você diz ser própria de gente radical, louca, histérica.
Já dizia aquela publicidade da Apple: "as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo, são as que o mudam" (não me contive). Tudo gente apaixonada o suficiente pra não olhar pra trás e ir até o fim, muitas vezes até pagando pela vida por isso.
Veja que a galera que perturba, que incomoda, que não teme o julgamento alheio foi a que melhorou suas condições de trabalho e aumentou o seu salário; aquelas mulheres bravas, "histéricas", intragáveis, foram aquelas que foram capazes de desafiar o estado das coisas e que posteriormente acabaram lhe dando liberdade de expressão, de opinião, de escolher e administrar sua própria vida. Aqueles chatos do movimento estudantil foram aqueles que melhoraram a vida de você que tinha problemas econômicos, o estado da sua biblioteca e do seu restaurante universitário.
Beleza, nem sempre são as pessoas mais divertidas, mais leves, mais tranquilas de conviver - apesar de Gandhi parecer um doce. Porém, elas têm um valor imenso, porque elas que fazem o mundo se movimentar. Ficar em cima do muro muda nada, ou quase nada. Impedir ou criticar muito do que essas pessoas acreditam e correm atrás, preste atenção, às vezes pode até lhe identificar com o lado opressor, porque de certa forma ficar do lado do status quo é achar que o estado das coisas vai muito bem, e a gente sabe que não vai, pra muita gente. Então por que ficar parado, por que temer a confusão?
Claro que não quero dizer que sempre escolhem os métodos certos, ou tomam as melhores decisões. Às vezes se equivocam, claro, porque errar é o risco que corre a pessoa que toma alguma atitude, que se propõe a fazer alguma coisa. Porém, têm todo o meu respeito.
Por isso, dedico o meu post de hoje a todos os chatos e chatas, os loucos e loucas, os arruaceiros e as arruaceiras, os/as radicais, gente a quem eu devo tudo de bom que usufruo agora, e que ainda irá permitir que o que tenha de melhorar, melhore.
Claro que não quero dizer que sempre escolhem os métodos certos, ou tomam as melhores decisões. Às vezes se equivocam, claro, porque errar é o risco que corre a pessoa que toma alguma atitude, que se propõe a fazer alguma coisa. Porém, têm todo o meu respeito.
Por isso, dedico o meu post de hoje a todos os chatos e chatas, os loucos e loucas, os arruaceiros e as arruaceiras, os/as radicais, gente a quem eu devo tudo de bom que usufruo agora, e que ainda irá permitir que o que tenha de melhorar, melhore.
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