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quarta-feira, 11 de junho de 2014
15:45 0

Diário de uma serviçal


Enfiar um dedo no umbigo de alguém e avisá-la/o que está com uma meleca do nariz exposta talvez equivalha à expressão de humilhação e espanto de uma pessoa aleatória que acaba de ser perguntada num restaurante se ela é o garçom ou a garçonete, ou num estabelecimento qualquer, se ela trabalha por lá.

Se existe uma categoria sem moral neste Brasil é a tal da galera prestadora de serviços. Não no sentido jurídico, mas todas aquelas pessoas que estão de alguma forma à disposição para servir, tirar dúvidas ou resolver problemas que estejam em situação de subordinação no trabalho, seja ele público ou privado.

Se o capitalismo tem como um de seus pilares a ética do trabalho, pode-se dizer que no Brasil o negócio parou no sistema escravagista. Trabalhar se não for pra ser dono de empresa, chefia ou ganhar mais de 10 mil reais num cargo público acabar por incluí-lo na ralé que pode ser tratada like shit. E é tratada assim não só pelos manda-chuva, não, mas por seus clientes, ou, caso seja servidor/a público/a, pelo "povo".

Aos poucos você vai virando uma pessoa cheia de amargura, antipática, preguiçosamente objetiva. Isso porque às vezes algumas figuras nos tiram do sério. Como curto essa vibe de fazer tipos ideais, aqui exponho pra vocês alguns tipos de gente mala que a categoria serviçal deste pais tem que conviver todos os dias.

1. Louco/a do Direito do Consumidor

O/A grande meritocrata acredita que o mundo é feito de vagabundos/as, e já se relaciona com nós, serviçais, como se desde o princípio já estivéssemos de má vontade para atendê-lo/a. Chega com postura imponente e já impaciente, batendo os dedinhos na mesa ou no balcão, e fala com tom impositivo e desafiador. Faz alguma pergunta absurda impossível de responder e solta um comentário, com tom de escárnio, dizendo que ninguém sabe trabalhar neste país, que ninguém sabe de nada. Isso quando não começa a dar escândalo. "Absurdo" é a sua palavra favorita. 

2. Íntimo/a

Você está bem de boa na sua, olhando o relógio para ir embora pra casa, e chega um(a) camarada com um sorriso exagerado inexplicável, falando com voz infantil. Aperta sua mão, dá dois beijinhos molhados e pergunta se você pode fazer um favorzinho - só faltava também meter o dedo no seu umbigo. Coisa boa parece não ser.

Tem gente que quando acha que você está numa posição escrota age assim por pena para compensar a escrotidão que ele/a acha que você vive e o sentimento de "deus me livre dessa situação". É um constrangimento comum vivido por empregadas domésticas, mas que pode se expandir pra todos os outros segmentos. A solução é apenas levantar uma sobrancelha e esboçar uma expressão de "não lhe dei intimidade". Porque vai que a pessoa é só legal mesmo e você se confundiu.

3. Ditador/a

Já entra no recinto dando um susto com seu tom de voz de carro de som. Só usa frases imperativas. Assim, não solicita nada, dá ordens! Vai logo mandando você trazer uma água e um café. Não respeita filas ou ordens de chegada. Você guarda o ódio para si, e torce para chegar o momento em que ele/a vai precisar da sua ajuda. É o momento mais gostoso pra fazer um corpo mole, atrasar um pedido, cuspir num café.



4. Sensual

Este/a nunca sai de casa sem estar com uma roupa íntima pronta para qualquer empreitada. Qualquer lugar é lugar para arranjar uma pegação. Inclusive quando vai a repartições públicas ou fazer compras. Chega com um olhar penetrante exalando sensualidade. Faz perguntas e ouve a resposta com a boca semi-aberta. Alisa o seu braço, pergunta seu nome. Podia ser bonito/a, podia ser interessante, podia ter menos de 30 anos de diferença, mas a vida não nos concede nada assim de graça.

5. Desprovido/a

Não sabe nem o que está fazendo naquele lugar, nem o que quer. Você oferece ajuda, a figura começa a expressar um monte de frases sem sentindo, conta todo o histórico que a motivou estar lá. Num dia de paciência, você ouve com bastante atenção, até que ao final de tudo, não passava de um engano, de uma ideia sem sentido.

Eeer... Força!










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