Não é preciso muito esforço pra perceber que não existem muitas mulheres no mundo da comédia, e há quem diga que encontrar uma mulher engraçada no convívio diário é uma tarefa difícil. Mulheres comediantes sempre são vistas com certa desconfiança ou, pelo contrário, até com muito entusiasmo, porque realmente não é algo tão comum. Nos últimos anos, algumas atrizes divertidas vêm despontando nesse meio, mas ainda são muito poucas. Por que será? Seria o humor uma questão de gênero?
Outra vez, vi uma entrevista com uma antropóloga chamada Mirian Goldenberg, que na época lançava um livro fruto de uma pesquisa que investigava diferenças entre homens e mulheres. Goldenberg mostrava que a maioria dos homens se divertiam mais com outros homens, e que as mulheres também se divertiam mais com pessoas do sexo masculino. Na lista de pessoas mais divertidas para as mulheres, as suas amigas ostentavam um papel totalmente secundário na hora de dar umas risadas. Amigos homens, maridos, namorados e outros ficavam na frente das suas parceiras. Para os homens, o quadro era parecido. Pessoas do sexo feminino especialmente não costumavam diverti-los.
Lembrei de algumas vezes que participei de conversas de bar com uma mesa predominantemente masculina (e mais machistinha) e percebi que, para determinados grupos, as mulheres não passam de meros adereços, acessórios. Sabe aquela história, "vamos pegar umas cervejas e umas mulheres"? Como se cervejas e mulheres fizessem parte de categorias análogas. Então. Nesses grupos, elas mal participavam da conversa, raramente introduziam algum assunto. Os homens riam e se divertiam horrores, eram sempre os protagonistas das histórias; e as mulheres apenas acompanhavam aquilo tudo. Será que não há o que falar? As mulheres são tão sem senso de humor assim?
Duvido muito que isso seja uma questão cromossomial. Uma resposta óbvia, e eu não estou inventando a roda aqui, é que desde muito pequenas somos preparadas para sermos mulheres atraentes, para conquistar, claro, um bom relacionamento e consequentemente um bom casamento. Para isso, você tem que ser linda, meiga, reservada, recatada, limpinha, falar e rir baixinho como uma princesa, e ainda ser sexy. Ai, meu irmão e minha irmã, não há quem possa ser engraçada para alcançar todas essas supostas qualidades. Para parecer uma futura boa esposa, não dá pra rir de si mesma.
É complicado relaxar pra falar alguma coisa quando desde cedo vários assuntos lhe são censurados para você alcançar o paradigma da mulher ideal. Falar de situações engraçadas que envolvam algum constrangimento quase sempre são mal interpretados. Escatologia, então? Proibido. Onde já se viu uma mulher falando sobre coisas nojentas? É uma verdadeira luta diária que as mulheres enfrentam para parecerem isentas do universo da excreção. Isso faz, inclusive, que elas sofram muito mais de prisão de ventre. Não é à toa que o Activia captou logo quem seria o seu nicho. Aí pronto, falar sobre o assunto nem pensar. Contar alguma história engraçada sobre dor de barriga, por exemplo, que é um assunto que rende histórias engraçadas, não pode entrar na roda, porque aí você está expondo para todo mundo que faz number two. E isso é segredo, secretíssimo.
Há alguns anos vi um programa da MTV, aquele com Marina Person, que se chamava Meninas Veneno, onde um grupo de mulheres falava sobre um tema predeterminado; e num desses episódios surgiu o assunto depilação. Marina Person, mais espontânea, falou daqueles dias que a gente deixa uns pelinhos mais crescidos, que dá aquela preguicinha normal de se depilar e tal. Jogou o tema pra dar um toque de humor e pra buscar a identificação das outras participantes. Como o assunto do dia tinha reunido umas mulheres mais frescas, essas moças que ali estavam negaram a possibilidade de existir um dia sequer em que não estivessem depiladas. Como assim, né? Peraí, minhas amigas. Até pra se depilar você tem que estar peluda. Que história é essa? Claro, minha gente, tinham que manter a magia do filme pornô da mulher totalmente lisinha, porque aí, adeus, pretendentes!
É até meio confuso. Castidade, "pureza", atriz de filme pornô. Complicado... mas dizem que mulher tem que ser tudo isso ao mesmo tempo. E ao mesmo tempo não ser. Vigi! É assim mesmo. Não há saída.
Claro, o humor não se resume a questões de higiene pessoal e tal. Não dá pra rolar uma boa stand-up comedy se resumindo a esses assuntos. O problema é que pra ser engraçado ou engraçada, em muitos casos, precisa-se de um certo desapego à vaidade e ao senso de ridículo, que às mulheres por muito tempo não foi permitido.E por isso, o apelo deste texto é esse. Desapeguemos um pouco dessa vaidade, meninas. Vamos liberar a comediante que existe dentro de nós. Mais leveza, mais diversão. Teste para 2014: próximo bloco Cafuçu pintar um dentinho e uma monocelha. Haha. Pedi muito, né? Mas vocês entenderam... :)
Adorando o blog!!! Parabéns!
ResponderExcluirQue ótimo, Socorrooo! Muito obrigada! :)
ResponderExcluirMariana, estou super curtindo seu blog! Que sopro de ar fresco :) Parabéns!
ResponderExcluirAss. a menina de bh que ficou abandonada com você na ufpb deserta após o seminário de feminismo e direito no final do ano passado - haha nossa que tanto de informação para uma simples identidade
menina, só pelo nome eu já adivinharia! hahaha. lembro bem demais de vc. foram poucas horas de convívio, mas muito significativas! hehe. fico muito feliz que vc esteja gostando do blog. espero que eu te dê motivos pra visitá-lo mais vezes. obrigada pelas energias positivas! beijos
ResponderExcluirAdorei o post, Mariana! Felizmente, sempre fui uma criatura bem-humorada e divertida, quase beirando o ridículo. Faço piada de mim mesma - semana passada mesmo, numa viagem de férias, acabei vomitando num brinquedo em um parque de diversões e, pior, na frente do namorado, hahaha. Claro, fiz piada com o assunto, e virei a Aretuza da viagem. Brincadeiras à parte, eu sempre fui bem recebida por homens e mulheres com meu bom humor, embora que um tanto quanto recatado - mas isso faz parte da minha personalidade mesmo. Eu sou tímida. Já esse assunto da depilação é meio polêmico e às vezes me dá nos nervos. Eu não curto muito depilação, acho feio... só depilo as pernas e as axilas. Milhares de amigas brigam comigo por conta disso, mas eu sigo feliz e fazendo apologia, hehehe. Beijo, continua postando!
ResponderExcluirLuísa, você já deve saber, mas... você tem fama de moça legal e inteligente. Então fico muito lisonjeada com você elogiando meu blog. Uma honra mesmo. Muito obrigada!
ResponderExcluirMenina, e esse negócio de depilação é uma graça. Basta ver as polêmicas que surgem quando alguma mulher posa com pelinhos... Vai entender, né?
Mariana, eu que fiquei lisonjeada com seu comentário! Moça legal e inteligente é você. :) Adorei também o post sobre os documentários, ultimamente tenho caçado alguns interessantes. Gostei das dicas, vou assisti-los. Beijos.
ResponderExcluirA questão do humor e mulheres humoristas é parte daquele machismo/sexismo na sociedade que é "óbvio" mas pouca gente parece perceber. Mas, como você, tenho visto uma mudança nisso (pensei mesmo nesse assunto há alguns dias), e hoje se vê uma atriz como Jennifer Lawrence se destacar, no meio de outros rostinhos bonitos, porque ela se permite passar por situações "ridículas" que as outras atrizes evitam. Aqui no Brasil tem o sucesso de Tatá Werneck na novela, uma pessoa que vive (pelo menos publicamente) com o modo "humorista" ligado 100% do tempo. Acho que é um avanço.
ResponderExcluirperfeito! é isso mesmo. mais inconveniente do que toda a repressão que a gente teve/tem que passar é que ainda tem mt mulher que nao tá disposta a mudar de papel, ne? é triste. esse lance da depilaçao (ja vi acontecendo na vida real o que aconteceu no programa) é sempre o exemplo máximo, pra mim. a gente até ja falou sobre isso um dia, acho, de como elas tb reforçam essa ideia de nojo diante de pelos, pq sabem que os homens abominam. mas parece que esquecem que, se elas agissem com normalidade em relaçao a questao, aos poucos, quem sabe, eles iam vendo que nao tem nada de abominavel. e, num futuro nem tao distante, com essas pequenas mudanças, poderiamos rir mais, fazer rir mais, além de cagar mais, sem activia.
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