Outro dia acordei pela manhã, dei aquela lavadinha no rosto com meu sabonete anti-acne, e depois de uma observação mais atenta ao espelho, percebi que estava não só com um, mas com quatro fios de cabelo branco na minha franjinha juvenil.
Com um misto de surpresa e insatisfação com esse sinal do tempo, prontamente providenciei de arrancá-los todos.
É... não tenho aceitado com muita leveza esta nova fase da vida.
No fundo, sinto que sou a mesma pessoa de 10 ou 15 anos atrás, e aquela maturidade que imaginava que teria aos vinte e muitos não chegou naquele ponto que eu esperava. Apesar de muitas opiniões mudarem da adolescência para a vida adulta, continuo tendo medo de espíritos e outros seres desconhecidos quando ando no escuro à noite; durmo do ladinho da minha mãe de vez em quando; e ainda não me acostumei com homens de mais de 40 anos dando em cima de mim sem considerá-los pedófilos (me achando a própria pré-adolescente ainda...).
Os vinte e muitos anos na verdade têm sido um período meio limbo pra mim. Quando você começa a se dar conta que existem algumas fases da vida e que você tem que se preparar para cada uma delas, esta dos vinte e muitos anos meio que me passou batida pelos referenciais que eu tinha. Acho que imaginei um pouco a geração dos meus pais, que depois de terminar a faculdade, rapidamente já se encontrava um trabalho, já se casava e tinha filhos.
Daí, qual é a situação que você se depara depois de se formar? Encontrar um emprego decente é uma tarefa árdua pra caramba. Você tem que optar entre um emprego escravo no mercado privado, ou, pelo serviço público, que você tem de abdicar de diversas coisas pra ter tempo de estudar para um concurso, e decorar todos aqueles prazos idiotas e pegadinhas escrotas.
Se casar e, principalmente, ter filhos também não faz parte do plano - porque você quer ter um sono tranquilo pelo menos até a idade de Cristo -, você se pergunta: afinal, em que consiste esta maldita fase dos vinte e muitos anos?
É ridículo, mas fiquei meio animada depois que percebi que em Friends e em How I Met Your Mother, as primeiras temporadas iniciam com seus personagens nesse período da vida, e são seriados divertidos que contaram muitas histórias e duraram bastante. Só que de alguma forma a galera tem dinheiro para ter apartamentos legais, espaçosos e bem localizados. Enquanto no seu primeiro empreguinho dos vinte e muitos, só dá pra alugar um apartamentinho furreca - isso, claro, se você não trabalhou que nem um escravo no ramo privado, ou se não estudou que nem um condenado por pelo menos uns dois anos pra entrar no alto escalão do serviço público.
Se dizem que a adolescência é a fase da auto-afirmação, eu discordo e digo que esta é a verdadeira fase da auto-afirmação. É uma pressão enorme para você mostrar o seu valor, porque sente que é o momento de colocar a sua marca no mundo, fazer algo importante, contribuir para algo de grande impacto para a vida de algumas ou muitas pessoas. É o momento de você mostrar quem você é e o que pode oferecer. E é tão desgastante às vezes, porque esse tipo de coisa não vem de uma hora pra outra.
Decidi, então, que vou arrancar meus cabelos brancos enquanto puder, e continuarei a usar o meu All Star de vez em quando, porque não dá assim pra envelhecer de uma hora pra outra. Tem gente que já incorpora o espírito: faz aquelas luzes no cabelo que envelhecem 15 anos, coloca um salto alto de oncinha e chama todo mundo de "meu amor". Evito esse tipo de aceitação ainda. No entanto, caminho por esse começo da vida adulta, fazendo mudanças aos poucos, porém qualitativas. Agora sem desanimar e cair no chocolate e no seriado de zumbis. Um dia eu chego lá, aproveitando cada pedacinho da vida, e o que ela tem a oferecer. E lembrarei desta fase com carinho, porque vai ser o momento que saí do meu conforto de menininha de classe média para realizar algo só meu. E se for mais tarde, Sex and The City tinha protagonistas com mais de 30 anos, dá pra bombar e encarar altas aventuras depois disso também. Caso contrário, ainda vão criar algum seriado legal pra depois dos 40 ou 50 pra gente se espelhar.
PS: A vida não é como um seriado de comédia, eu sei. Mas eles fazem a gente sonhar. Deixa eu sonhaaar!