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domingo, 13 de abril de 2014
06:00 0

E essa gente radical, hein?


Para quem achava que os debates ideológicos entre posicionamentos de direita e esquerda estavam ultrapassados, basta dar uma escorregadinha no feed de notícias do Facebook, ou ler os comentários de algum site de notícias, que perceberá que a promessa pós-moderna de fim das ideologias não está tão em voga assim. Há um conflito claro entre visões de mundo ocorrendo.

Nessa arena de confronto, há os que ficam em cima do muro, assistindo tudo com visão privilegiada, muitas vezes criticando os "radicalismos", os "extremismos", sobretudo das pessoas apaixonadas de esquerda. "Ingênuos/as!", "utópicos/as!", "malucos/as!" é o que dizem. 

Posso compreender as pessoas que ficam em cima do muro. Até porque, eu mesma, com 27 anos de América do Sul, ainda não elaborei bem, nem decidi o que pensar sobre diversas situações; são o que dizem ser essas crises da vida. Fica realmente difícil se entregar de corpo e alma assim. Por agir dessa forma também, permita-me confessar, ficar em cima do muro é confortável demais. 

Até agora, por exemplo, não me decidi se acredito em Deus ou não. Dentro de mim, eu penso que se morrer e nada acontecer, eu, no meio do nada, ainda que isso não seja possível, ria da cara de todas essas pessoas muito religiosas que abdicaram de várias coisas da vida, aparentemente inofensivas, em busca de uma grande iluminação pós-morte. Ao mesmo tempo, penso que se existir algo além-vida Deus ia ver que eu tava com uma perninha do outro lado do muro, teria compaixão de mim, computaria que eu tinha bom coração e me encaminharia para as nuvens de algodão.

Aí eu vivo assim, tranquila, achando que nada de mal vai acontecer comigo. Pois acontecendo uma coisa ou outra, eu tenho fé que vou sempre sair ganhando. 

Eu imagino que é assim que se sente os em-cima-do-muro-políticos. Tudo que acontecer de bom, que convém, atribui pra si; o que der errado, não lhe pertence. E aí, passa a vida apontando o dedo indicador, às vezes o maior de todos, na cara dos outros que tomaram alguma posição. Vida boa danada. Sem culpas, sem cair nunca em constrangimento, em contradição ou em qualquer outra situação difícil. 

No entanto, amigo, amiga, reflita um pouco e verifique que todas as grandes mudanças ocorridas no mundo, foram lideradas por pessoas audaciosas, que tomaram alguma posição, pessoas com várias dessas características que você diz ser própria de gente radical, louca, histérica.

Já dizia aquela publicidade da Apple: "as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo, são as que o mudam" (não me contive). Tudo gente apaixonada o suficiente pra não olhar pra trás e ir até o fim, muitas vezes até pagando pela vida por isso.

Veja que a galera que perturba, que incomoda, que não teme o julgamento alheio foi a que melhorou suas condições de trabalho e aumentou o seu salário; aquelas mulheres bravas, "histéricas", intragáveis, foram aquelas que foram capazes de desafiar o estado das coisas e que posteriormente acabaram lhe dando liberdade de expressão, de opinião, de escolher e administrar sua própria vida. Aqueles chatos do movimento estudantil foram aqueles que melhoraram a vida de você que tinha problemas econômicos, o estado da sua biblioteca e do seu restaurante universitário. 

Beleza, nem sempre são as pessoas mais divertidas, mais leves, mais tranquilas de conviver - apesar de Gandhi parecer um doce.  Porém, elas têm um valor imenso, porque elas que fazem o mundo se movimentar. Ficar em cima do muro muda nada, ou quase nada. Impedir ou criticar muito do que essas pessoas acreditam e correm atrás, preste atenção, às vezes pode até lhe identificar com o lado opressor, porque de certa forma ficar do lado do status quo é achar que o estado das coisas vai muito bem, e a gente sabe que não vai, pra muita gente. Então por que ficar parado, por que temer a confusão?

Claro que não quero dizer que sempre escolhem os métodos certos, ou tomam as melhores decisões. Às vezes se equivocam, claro, porque errar é o risco que corre a pessoa que toma alguma atitude, que se propõe a fazer alguma coisa. Porém, têm todo o meu respeito.

Por isso, dedico o meu post de hoje a todos os chatos e chatas, os loucos e loucas, os arruaceiros e as arruaceiras, os/as radicais, gente a quem eu devo tudo de bom que usufruo agora, e que ainda irá permitir que o que tenha de melhorar, melhore. 







quarta-feira, 9 de abril de 2014
10:03 2

O que não te contaram sobre aquela viagem

Aaaaah, viajar...

Alguma coisa aconteceu nos últimos anos que viajar para o exterior se tornou algo bastante comum entre os brasileiros. E com as redes sociais, todo mundo pode visualizar isso com registros fotográficos incríveis. A intenção é compartilhar com a família e amigos esse momento tão especial. Há também quem tenha a necessidade de se afirmar perante os outros, mostrando como sua vida é maravilhosa, digna de inveja, etc e tal. 

Viajar é massa! É lúdico, construtivo, abre horizontes, enche a gente de cultura. Porém, existe um lado sombrio, cheio de nuvens de fumaça que as pessoas não costumam mencionar por aí. Tudo isso pra pegar o besta, que ficou em casa, que acha que todo mundo tem a vida melhor que a sua. 

Sensibilizada com você, que está sem poder viajar, está sem grana ou economizando pra uma outra coisa mais essencial, resolvi, então, compartilhar experiências não só minhas, mas também de diversas pessoas conhecidas (sem mencionar nomes, claro) que irão confortar o seu coração. 

É, minha gente... Viagens podem ser muito divertidas, mas também podem ser:

1. Destruidoras de relacionamentos

Viagens podem destruir namoros, amizades; podem, sim. No primeiro caso, aqueles namoros cheios de paixão que acabaram de começar podem ser testados nesse momento em que vocês não poderão se desgrudar. A falta de intimidade não só poderá te encher de gazes, mas poderá fazer com que você perceba que talvez aquela pessoa não seja tão boa companhia assim. O seu novo parceiro pode ser um ladrão de souvenirs, um unha de fome pra comprar comida, um sujismundo, um frescurento filhinho da mamãe, ou simplesmente pode ser uma pessoa de ótimo coração e comportamento exemplar, mas por algum motivo qualquer coisa que faz te dá uma vontadezinha de agredi-lo verbal e fisicamente. Aquele/a amigo/a querido/a também pode ser tudo isso, e mais, essa amizade pode dar espaço ao maior conflito existente entre companheiros de viagem: o conflito hiperativos x preguiçosos. 

De um lado, os andarilhos incansáveis: passam horas andando, tiram fotos sem parar, comem num fast-food qualquer, madrugam em festas, e ainda querem acordar 7 horas da manhã pra prosseguir os passeios turísticos. De outro lado, o lado o qual me identifico (não necessariamente o melhor lado), a galera do turismo light, do turismo da paz, que não faz questão de conhecer tudo de uma vez. Gosta de sentar num banquinho, admirar a paisagem, comer uma comida típica, dormir mais de 8 horas por dia. Quando esses perfis se reúnem podem gerar brigas, desgastes. Cada um que reclame do outro defendendo a sua própria maneira de fazer turismo. Amizades são abaladas, se tiver mais gente num grupo, lados se dividem, farpas são trocadas. O negócio é torcer pra tudo voltar ao normal quando chegarem em casa. 

2. Cansativas, muito cansativas

Sabe aquela foto alegre, deitada na grama, com aquele óculos Ray-Ban fashion comprado no Duty Free? Pode ter sido estrategicamente forjada para enganar você, bestalhão. Aquela alegria, aquele momento de descanso, contemplado a natureza e a arquitetura esplêndida da cidade estrangeira pode não ter passado de um intervalo de 20 segundos apenas para tirar essa foto super divertida, que será seguida de uma jornada cansativa, de longas caminhadas, às vezes corridas para o ponto turístico mais próximo. Aquele museu bacana, cheios de obras famosas de pintores renomados, será utilizado só para ponto de descanso para ir ao banheiro, encher a garrafinha com água da pia, e para tirar um cochilo em algum banquinho ou escadaria. 

3. Superestimadas

Aquela cidade linda, adequada para um pertencente da elite brasileira, digna de cenário para uma novela de Manoel Carlos, nem é tão legal assim. Aquele prato típico maravilhoso? Era melhor o do restaurante que fica a poucos metros da sua casa no Brasil. Aquela obra de arte famosérrima? É pequena demais, mal deu pra chegar perto dela com toda aquela multidão a cercando. Aquela segurança toda de país desenvolvido? Ah, meu amigo, vacilou, e cadê a carteira no bolso? Cadê a bolsa, depois daquele cochilo no trem? De um tirinho na cabeça você pode até ter se livrado, agora de uma mãozinha sapeca, não estás livre, colega, em lugar algum deste mundo. 

Você pode ter deixado de viver uma aventura incrível, mas também pode ter se livrado de uma grande roubada. Acorde com um sorriso no rosto pra ir à faculdade ou ao trabalho, coma o seu inhame com carne de sol e/ou ovo, e/ou queijo de coalho com satisfação, poste uma foto com esse prato com cara de “nham, nham” no Instagram e mostre que a vida também pode ser gostosa na rotina.